• Carregando...
Silvio Almeida e Eduardo Girão
Silvio Almeida chama de “performance” tentativa de entrega, por parte do senador Eduardo Girão, de réplica de feto de 11 semanas, símbolo da luta contra o aborto| Foto: Pedro França/Agência Senado

O Senado viveu uma semana agitada nas suas salas de comissões em duas audiências públicas. A primeira, no dia 25 de abril (terça-feira), convocada pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), e a segunda, no dia 27 de abril (quinta-feira),convocada pela Comissão de Direitos Humanos (CDH). Os convidados, que debateram com os senadores membros das comissões, foram autoridades da primeira fila do Executivo nacional: o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, e o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida.

O tema na CAE tratou da atual taxa de juros. Já na CDH, o ministro convidado apresentou as ações da sua pasta. Contudo, duas participações, coincidentemente, de dois senadores cearenses, despertaram reações inesperadas nos participantes, além de ter retratado um pouco de como está panfletário o cenário político brasileiro. Iniciaremos nossa leitura dos fatos com a atuação circense do senador Cid Gomes, na CAE.

Esperamos dos nossos representantes um debate sério e respeitoso entre as instâncias republicanas.

De posse de um quadro negro, sustentado por um constrangido assessor, Cid Gomes puxou da sua “cartola” um giz branco e começou a sua verborragia de docente ideológico diante de um aluno que carrega consigo currículo internacional, vasta experiência em macroeconomia e subscreve o mesmo nome do criador do banco que preside.

De forma paciente e disciplinada o experiente economista ouviu Cid, respondendo respeitosamente os seus questionamentos. Contudo, não satisfeito com a sua performance inicial, o parlamentar da Câmara Alta, no cume da sua prepotência, dirigiu-se a Roberto Campos e lhe entregou um boné antes de proferir a seguinte frase: “Pegue o seu bonezinho e peça para sair”.

Na quinta-feira foi a vez do senador Eduardo Girão. Esse quis saber o posicionamento do ministro dos Direitos Humanos sobre o ostensivo apoio do presidente Lula aos governantes de linha totalitária que assumem postura assemelhada a do fascista Mussolini, liderando ditaduras em seus respectivos países. Também pediu a opinião do gestor sobre a afirmação do então candidato Lula, que dizia em campanha ser contra o aborto, e ao chegar no poder vacila nessa afirmação. Enquanto ainda falava sobre o último tema, o senador foi caminhando em direção ao local onde estava Silvio Almeida para lhe oferecer um bebê de plástico de onze semanas de gestação, símbolo mundial da luta contra o aborto.

Sem responder a nenhum dos questionamentos, o que se viu em seguida foi uma atitude intransigente e reacionária do ministro. Colocando pitadas de dramaticidade, dignas de novela mexicana, foi aumentando sua performance no mesmo ritmo em que emergia das cadeiras do auditório uma claque, posicionada estrategicamente para ovacionar a lacração inflada de ódio do representante institucional dos Direitos Humanos do Brasil, dito do “bem”.

Percebe-se que, assim como o chefe maior da nação não consegue interpretar um questionamento jornalístico (quando a sua falácia é flagrada) na sua língua mãe, esquivando-se cinicamente com um “não compreendo”, os seus aliados políticos (ou aqueles que flertam com esse alinhamento) também não compreendem que, nós brasileiros, esperamos dos nossos representantes um debate sério e respeitoso entre as instâncias republicanas.

Plauto de Lima é mestre em Políticas Públicas (UECE).

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]