Qual a importância que damos ao que realmente importa? Talvez o leitor já tenha compreendido, ou talvez não, mas o que realmente importa é tudo aquilo que você não levará após o término da sua jornada. Se você partisse e pudesse ver sua vida por uma semana – sem sua presença –, o que ficaria? As roupas no armário certamente seriam doadas para alguma caridade de que você gostava ou para alguma organização social. Todo o seu dinheiro (ou fortuna, caso tenha) seria distribuído aos de direito ou alvo de acirradas disputas jurídicas. Sua mesa do escritório seria limpa e seu cargo, substituído por alguém competente. Seu futebol, ensaio, tênis e tudo o que adorava fazer com a “turma” talvez naquela primeira semana, com seu falecimento, seria adiado.
O que é notório, mas muitos ainda não percebem, é que o mundo não irá parar. Obviamente várias pessoas sentirão sua falta e chorarão por dias ou meses, mas lamento informar que suas glórias e conquistas, em sua maioria, cairão no esquecimento do grande público. Duvida? Recentemente o tenista Rafael Nadal afirmou ao jornalista Emilio Perez de Rozas que “a questão pessoal é mais importante que a profissional. Sempre digo que gostaria de ser lembrado como uma pessoa boa, gente boa, muito mais do que um campeão ou qualquer outra coisa”. Como um esportista detentor de 20 títulos de Grand Slam afirma isso? Ele será sempre lembrado, não? Aí que está a ilusão. Mesmo os grandiosos, os grandes, os magníficos e pioneiros vão perdendo espaço com o passar do tempo. Outros campeões surgirão nos próximos anos. Recordes serão batidos e primeiros lugares serão substituídos. Nadal está correto em sua afirmação porque sabe que títulos e troféus realmente vão embora. Mesmo os mais aclamados, com o tempo, perderão sua notoriedade para o novo público que chega.
Você sabe quem foi Ayrton Senna? Imagino que sim, mas pergunte a um jovem de 12 anos. Será que ele concordaria que Senna foi maior que Michael Schumacher? Maior que Lewis Hamilton? O tempo sempre trará o ineditismo para tudo que julgamos ser ótimo hoje. Então, o que realmente importa? Ao deitar em sua cama hoje, reflita sobre seu dia e suas ações. Foi um dia a ser lembrado? Foi um dia em que alguém dormiu melhor do que acordou graças exclusivamente a você? Impactar vidas não pode ser uma frase comercial ou jargão como “faz sentido para você?”. Em Gênesis 2,7 está escrito: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”. Independentemente da sua crença, você realmente está nesse plano por curtidas e volume de aderência frente a seguidores? Sejamos francos: se eu partir hoje, o máximo que terei da minha rede são frases de agradecimento e talvez fotos de perfil com slogan “LUTO”. Nada disso é legado, nada disso importa! O que vale é a continuidade. A frase que diz que jamais seremos imortais, mas podemos ser eternos está justificada na perpetuidade.
Nossa multiplicação (física ou mental) é o que faz a vida valer a pena. Família e amigos são realmente o que importam. Sua eternidade esta na memória dos que ficam e não nos monumentos construídos. Seus herdeiros ou reais seguidores – os amigos – são os que ecoarão seu nome. Muitos não percebem isso e acabam ofertando seu tempo e energia a questões pífias. Cuidado com os olhares aos celulares, pois eles podem ter um custo de oportunidade imensurável para sua vida. Cuidado com os cargos, pois eles têm um vínculo com hábitos irreais, ou seja, direcionados a seu cargo e não a você. Cuidado com os métodos prontos, pois eles trazem fórmulas que erradicam tudo, menos seu sofrimento. Na sua partida o que valerá são os legados deixados nas vidas que aqui ficam.
Minha filha, razão pela qual escrevo tantos artigos, será minha maior herança. É nos olhos dela que você poderá enxergar um pouco de mim (entendedores entenderão). Será em suas ações como mulher de honra que se encontrará meus valores. Será no seu sobrenome que meus alunos poderão lembrar minhas aulas. Será nos seus gestos que poderão me ver junto a ela. Quero que em minha partida as pessoas sintam saudades do tempo que passaram comigo. Talvez eu nunca seja um Oskar Schindler para ser lembrado por toda uma geração de pessoas, mas sei que dou o meu melhor aos que merecem meu melhor. Legados se fazem por bilateralidade de sentimentos, e realmente torço para que sua doação esteja sendo direcionada àqueles que aguardarão ansiosos o “atravessar do rio” para vê-lo novamente ao fim do tempo.
Thiago dos Santos Paiva é economista, turismólogo, mestre em Administração e proprietário da Choice Academia de Profissões.
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