A sociedade ainda reluta em mudar os seus hábitos. Na retórica, somos todos favoráveis ao desenvolvimento sustentável, mas poucos mudam suas próprias práticas
A humanidade já está ciente das consequências da manutenção da atual dinâmica socioeconômica, marcada pelo uso intensivo de combustíveis fósseis e pelo desmatamento. Contudo, os líderes mundiais ainda não tiveram a competência de transformar a pressão da sociedade em atitudes concretas para a necessária e urgente correção de rumo do nosso desenvolvimento. E essa mesma sociedade ainda reluta em mudar os seus hábitos. Na retórica, somos todos favoráveis ao desenvolvimento sustentável, mas poucos mudam suas próprias práticas.
Na busca por soluções em âmbito global, o Protocolo de Kyoto representou um marco, pois foi capaz de definir um acordo entre países para tratar de um tema de importância global. No entanto, embora as metas definidas para 2012 tenham sido extremamente conservadoras, não serão alcançadas. A conferência sobre mudanças climáticas de Copenhagen, em 2009, representou um retumbante fracasso da diplomacia internacional e a COP-16, em Cancún, segue pelo mesmo caminho.
O Japão se posicionou contra a rediscussão de novas metas, com o argumento de que os Estados Unidos da América (EUA) continuam fora do acordo de Kyoto. Austrália, Rússia e Canadá devem se alinhar ao Japão. Para justificar sua posição, os EUA exigem que os países emergentes também tenham metas definidas. O impasse diplomático estimulado pelas regras vigentes, que exigem unanimidade nas negociações, dificilmente será superado.
Com isso, as ideias que ganham corpo são aquelas que estabelecem uma maior participação dos países em desenvolvimento e que substituem a definição de metas de redução de emissões por padrões assumidos unilateralmente pelos países. As siglas REDD Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação e MRV Monitoramento, Relatório e Verificação serão cada vez mais conhecidas pelo público.
A grande questão que se apresenta é: qual estrutura política poderá representar adequadamente os interesses da humanidade? Fundada na égide da Segunda Guerra Mundial, em um quadro político e econômico completamente diferente, a Organização das Nações Unidas encontra-se completamente desajustada para tratar dos desafios atuais.
Da mesma forma, pode-se perguntar: serão os governos os reais detentores do poder, capazes de dar um novo direcionamento às questões econômicas que influenciam as condições do meio? Com a globalização da economia e a geração de grandes conglomerados financeiros transnacionais, alterou-se o eixo do poder político dos governos para as empresas, que precisam demonstrar uma compreensão muito mais arrojada da sua verdadeira responsabilidade política, social e ambiental.
Ainda bem que, para auxiliar no controle do efeito estufa, não precisamos aguardar pela decisão de ninguém. A descarbonização da matriz energética depende também de atitudes como a priorização do transporte coletivo, a adoção de fontes de energia limpa, a otimização do consumo, a substituição de viagens por reuniões virtuais e a redução do desmatamento. Uma sobretaxa ao consumo de derivados de petróleo, por exemplo, poderia desestimular o seu uso, viabilizar energias alternativas e gerar recursos para financiar a mitigação de seus efeitos.
As mudanças exigidas para a humanidade somente serão efetivas quando determinarem uma alteração no comportamento individual. Se nos posicionarmos de forma favorável para que os países e empresas assumam uma maior responsabilidade ambiental, precisaremos estar preparados para ajustar a nossa própria conduta. Você concordaria com o aumento do preço da gasolina, em andar de ônibus e bicicleta com mais frequência, em usar um carro menos potente, em reduzir o consumo de água quente no seu banho e em economizar energia? Enquanto os acordos internacionais não se refletirem em nossas vidas pessoais, provavelmente não terão efetividade.
Cleverson V. Andreoli, doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento, professor do mestrado em Organizações e Desenvolvimento da FAE, engenheiro de pesquisa da Sanepar, autor e organizador de livros na área de meio ambiente.
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