Na próxima segunda-feira, a Assembléia Legislativa votará sobre a possibilidade de a Copel vir a administrar rodovias federais que cortam o Paraná. O argumento do governo estadual é que assim será possível baixar as tarifas, fazendo a Copel cumprir seu papel social.
O propósito de reduzir o custo aos usuários de rodovias, notadamente os que transportam produtos do estado, é bom. O meio para atingir este objetivo, a Copel, é péssimo. A Copel é uma empresa bem gerida, que busca a excelência em seus serviços e que está focada com a questionável exceção das telecomunicações em Londrina. Gera e distribui energia eficientemente, com índices de primeiro mundo. Sua missão é: "Gerar, transmitir, distribuir e comercializar energia, bem como prestar serviços correlatos, promovendo desenvolvimento sustentável e mantendo o equilíbrio dos interesses da sociedade paranaense e dos acionistas." Não tem nada a ver com transportes rodoviários; entrar nesta área não-sinérgica seria desvirtuar inteiramente o propósito da Copel. Seria diminuir o seu resultado, seria dispersar energias gerenciais, em última análise seria destruir valor do estado.
O conhecido professor de Harvard e guru de estratégia Michael Porter bate forte na máxima: as empresas devem se focar no que podem fazer de melhor, e crescer aí. Focar; não diversificar. Como toda a regra tem exceção, ele cita a única empresa que conhece que participa com sucesso de diversos segmentos não sinérgicos: a General Electric (GE). Ao diversificar não-sinergicamente, qualquer companhia destrói valor, tanto para os seus acionistas como para a sociedade. Isto porque fará coisas que outros podem fazer melhor e deixará de fazer as que pode fazer de maneira excelente.
A destruição de valor já está se materializando: depois que o governo enviou o projeto de lei à Assembléia Legislativa, as ações preferenciais da Copel afundaram até 13%, enquanto a Bovespa estava em franca alta de quase 10%. Quem perde com isto? Os acionistas, dos quais o estado do Paraná é o maior e, conseqüentemente, o povo do Paraná.
Com a sombria e concreta perspectiva de termos um apagão elétrico em 2009-2011, que arrefeceria nosso tão ansiado crescimento econômico como o fez em passado recente, por que os recursos da Copel deveriam ser desvirtuados a outro setor? O propósito social, societário e eficiente da empresa de energia do Paraná é produzir e distribuir energia. O governo da Venezuela, dirigido pelo polêmico Hugo Chávez, tem utilizado suas empresas sadias para realizar programas sociais, com resultados altamente questionáveis tanto a curto como a médio e longo prazos. Lá, estão destruindo o valor das empresas, acelerando a inflação e provocando fuga de investidores. É isto o que queremos aqui?
Nosso governo estadual tem outros meios de realizar o seu propósito de administração de rodovias que cortam o Paraná: poderia negociar com o governo federal a concessão, poderia estabelecer uma empresa específica para este fim, poderia... Há muitas alternativas que não seja a de desvirtuar a missão de uma empresa sadia.
Conclamo os deputados estaduais, as lideranças políticas e os cidadãos, especialmente aqueles que confiaram seu dinheiro à Copel, que impeçam, com seus votos e sua opinião, esta atabalhoada insensatez.
Roberto Costa de Oliveira é presidente da Exal e acionista da Copel.