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Depois de uma Copa América repleta de controvérsias, o desfecho foi marcado pela derrota da seleção do país, que a contragosto de boa parte da população sediou a competição. O título acabou ficando com o maior rival sul-americano do Brasil e quiçá mundialmente, a Argentina.
Além do futebol tímido de nossa seleção, que deixou muito a desejar, o momento vivido pela nação foi praticamente esquecido pela equipe. O máximo que se fez foi um minuto de silêncio antes do início dos jogos. Se em um primeiro momento antes do evento alguns jogadores chegaram a se manifestar contra a realização da competição no Brasil, após o início parece que os problemas sociais, políticos e econômicos do país foram completamente esquecidos. Afinal, somos a pátria de chuteiras.
Se as derrotas podem nos ensinar, como afirma a sabedoria popular, talvez essa derrota na final de uma Copa América com pouca expressão e falta de interesse de muitos brasileiros possa ser um sinal para que voltemos nossa atenção e esforços para as necessidades realmente urgentes do país.
Se a intenção de alguns era desviar o foco e fazer da Copa América um evento político para proporcionar um esquecimento dos problemas e fazer de conta que está tudo “normal”, o objetivo parece que não foi totalmente alcançado. Denúncias e suspeitas gravíssimas de corrupção se acumulam, a vacinação caminha a passos lentos com paradas intermitentes por falta de doses. Nesse contexto, uma grande parte dos cidadãos da pátria de chuteiras chegou a torcer contra a própria seleção numa final em benefício do seu maior rival.
No mínimo temos uma situação de profunda insatisfação e, ainda que alguns queiram negar, seja pelo desinteresse ou por meio de manifestações diretas, uma parte considerável do povo se manifesta. É preciso cautela para evitar juízos ligeiros e equivocados, mas os problemas do país estão aí e clamam por respostas e soluções. Certamente não serão eventos esportivos, sejamos vitoriosos ou não, que os resolverão.
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Assim, o pouco interesse por parte do público, junto com uma participação pouco expressiva de nossa seleção, parece indicar que precisamos dedicar atenção e esforços para o que realmente importa em um momento tão complexo como este que vivemos. O futebol e a seleção não deixarão de ter sua importância para o país. Mas por que um povo irá se importar com uma seleção que parece não se importar com seu povo?
Luís Fernando Lopes, mestre e doutor em Educação, é professor da Área de Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter.