Ninguém gosta de falar de morte. É aquele assunto tabu que fazia nossos avós brigarem quando a gente comentava: "não presta falar nessas coisas, menino!" A gente gosta de evitar, de fingir que ela não existe e que não está em todo lugar. Talvez pela tão falada banalização da violência, acabamos achando que ela é comum, sim, mas bem distante de nós.
Esta semana, três fatos ligados à morte deixaram muitas pessoas chocadas. Mesmo que gostemos de fingir que ela não existe ou está bem distante, às vezes ela teima em bater à nossa porta.
Na segunda feira, 11 de agosto, uma das estrelas mais queridas no mundo do cinema chocou o mundo. Deixando milhares de fãs, um homem que era a alegria em pessoa para quem o via na tela grande sucumbiu a uma depressão profunda e se enforcou com o próprio cinto em sua casa. Robin Williams foi e sempre será um ícone do cinema e por mais de três décadas nos ensinou a sorrir e a chorar diante das mais variadas emoções que este mundo de fantasias é capaz de nos proporcionar. Nenhum de nós é capaz de saber o que se passava em sua cabeça para chegar a tamanho ato de desespero. Mas seu falecimento repentino, aos 63 anos, nos avisou: a morte pode chegar de onde e de quem menos se espera.
Foi na quarta-feira seguinte, perto da hora do almoço, que ela se anunciou novamente. O Brasil está em plena campanha eleitoral, e foi com uma sensação de ceticismo que vimos pipocar a notícia de que um avião com um dos candidatos à Presidência havia caído. O mesmo candidato que na noite anterior dera uma entrevista para a tevê, comentando suas propostas e respondendo perguntas de campanha. Eduardo Campos tinha viajado ao Litoral de São Paulo para cumprir agenda política na cidade de Santos. A bordo da aeronave estavam sete pessoas, entre passageiros e tripulantes. Campos tinha completado 49 anos no último domingo. A queda do avião, com aquela pessoa que vimos na noite anterior na tevê, nos lembrou novamente: a morte pode chegar quando menos se espera.
Na mesma quarta-feira, somente algumas horas depois, um amigo posta em sua página no Facebook uma foto e uma mensagem de despedida. Recados desesperados são enviados pelo site, alegando que seu celular não responde. Em princípio difícil de acreditar, depois a foto vai tomando ares de cena de filme de terror e a realidade vai se aproximando: não era uma mensagem qualquer, era um pedido de socorro. Um "me ajudem, não aguento mais" de forma que pudesse alcançar o maior número de pessoas possível, e talvez a única onde ele se deixaria expor, no anonimato conhecido das redes sociais. Conhecido e admirado em Curitiba, ele se dispôs a um último apelo aos seus mais de 2,7 mil amigos virtuais antes do ato desesperado. E foi atendido. Agora ele está bem, se recuperando do susto ao lado de sua filha e esposa. Não cabe a nós julgar; cabe, sim, estender a mão a um amigo (ainda que de pouco contato) e dizer "cara, estamos aqui pra você".
E a morte mais uma vez nos lembra: "estou aqui, do seu lado, querendo você ou não. E posso te chocar de inúmeras formas possíveis".
Flávio St Jayme, jornalista e empresário, é sócio-proprietário da agência Clockwork Comunicação.
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