A recente e trágica morte do comediante americano Robin Williams, confirmada como suicídio por asfixia, traz à tona uma preocupação alarmante e que reflete muito da imagem que alguns transtornos mentais ainda recebem por parte da sociedade.

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Para alguns, um destempero; para outros, uma fraqueza. Mas a depressão é um transtorno mental dos mais graves e incapacitantes. Dentre as dez principais causas de afastamento do trabalho em todo o mundo, cinco são decorrências de transtornos mentais. A depressão aparece em primeiro lugar.

Combinada com o uso e o abuso de álcool e de outras drogas, torna-se uma combinação bombástica. O ator enfrentava uma depressão severa. Já havia sido internado várias vezes em clínicas de reabilitação, por problemas com drogas, sendo a última vez em julho passado. A prevalência de tentativas de suicídio na população geral é em torno de 4%. Entre alcoólatras, a prevalência de morte por suicídio pode chegar a 21%. É um dado alarmante.

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Para 46 milhões de brasileiros, segundo dados do Ministério da Saúde, a depressão é uma realidade: 20% a 25% da população já teve ou tem depressão ao longo da vida. O transtorno abrange o organismo como um todo, afetando o físico, o humor, o pensamento e até a forma como a pessoa vê e sente o mundo a seu redor. É como se a vida perdesse a cor.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão ocupa o segundo lugar dentre as doenças que causam incapacidade no trabalho e a projeção é de que até 2020 ela esteja no topo da lista. A incapacitação profissional e a falta de interesse e de motivação para participar de atividades sociais rotineiras e de ter prazer nas coisas de que se gosta e com as pessoas amadas transformam dramaticamente o cotidiano dessas pessoas e de seus familiares e amigos, trazendo consequências devastadoras. Essa falta de capacidade de se relacionar tem efeitos profundos e duradouros, que dificultam a reinserção social dos que tentam se recuperar de um episódio de depressão.

Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que a depressão e os demais transtornos mentais atingem muitos brasileiros, o preconceito em torno a eles é crescente na sociedade. Cabe à sociedade acompanhar as descobertas científicas do seu tempo e combater ativamente o preconceito. Porém, há, ainda, muita desinformação. Por que tantas pessoas ignoram a palavra e ainda têm tanto preconceito contra os transtornos psiquiátricos, em sua maioria livres de qualquer embasamento científico ou lógico? Foi com esses questionamentos em mente, e com o intuito de unir a classe psiquiátrica e a sociedade sobre tão presente realidade enfrentada nos consultórios médicos de todo o Brasil, que a ABP criou a campanha "Psicofobia é crime". Já é hora de combater essa discriminação, como atualmente já se faz com os homossexuais, negros e mulheres. A expressão "psicofobia" expressa justamente o nefasto preconceito contra os doentes mentais e portadores de deficiência.

Se não se deve debochar ou subestimar de doenças como o câncer ou o diabete, por exemplo, também não há razão para as doenças mentais não serem encaradas com a seriedade que elas pedem e seus portadores exigem. Há várias formas de preconceito, entre elas a própria negação da doença como algo menor ou passageiro. Como disse Albert Einstein, lamentando a triste época em que vivia, "é mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito". Em pleno 2014, ideias preconceituosas devem ser combatidas com ainda mais veemência. É chegada a hora de a sociedade olhar com maturidade e respeito para os portadores de transtornos mentais. A morte do comediante traz um alerta importante: depressão é coisa séria.

Antônio Geraldo da Silva, psiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

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