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Quando o líder é o motivo da demissão

O número de pessoas que pediu demissão nos últimos três anos cresceu 72%, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Emprego e Trabalho (MTE). Mais de um terço das demissões no primeiro semestre de 2012 foram espontâneas. Mudar de emprego quando se recebe proposta, por exemplo, 50% maior que a remuneração atual realmente é uma oportunidade que ninguém quer perder.

Entretanto, quando um profissional troca de emprego por compensações de 10% a 15% maiores, certamente o problema maior não é o salário. A alta rotatividade de profissionais por pouca diferença salarial significa que a empresa e (especialmente) a liderança não estão cumprindo o papel de criar um ambiente motivador para que as pessoas sintam-se parte dele e não queiram sair na primeira oportunidade que aparece. Quando as pessoas sentem-se parte do ambiente de trabalho, são reconhecidas pelos seus esforços e contam com uma liderança efetiva, somente ofertas muito convincentes farão alguém mudar de emprego.

Assim como faltam pessoas qualificadas para posições operacionais e técnicas, faltam também para as funções de liderança, o que tem levado as empresas a contratar ou mesmo promover para cargos de gestão profissionais que não estão devidamente preparados. Uma liderança despreparada produz efeitos devastadores sobre o ambiente e sobre o nível de retenção de talentos porque, ao fim, ela representa a empresa, seus valores e suas crenças através de seu comportamento e seu preparo no trato com os liderados.

No momento em que o colaborador pede demissão, o motivo da saída é, quase sempre, o de ter recebido oportunidades melhores. Mas o fato é que, na maioria das vezes, o que se tem é uma insatisfação aguda com o ambiente de trabalho, com a falta de conexão entre as expectativas pessoais e o ambiente.

Quando a liderança não atua com eficácia, gerando um ambiente motivador para os trabalhadores, qualquer motivo é um bom motivo para se trocar de emprego. A liderança tem um papel fundamental no gerenciamento do ambiente e das relações interpessoais em sua equipe. Estar preparado para gerenciar comportamentos e administrar conflitos é função indelegável da liderança.

O problema pode surgir, eventualmente, de uma contratação feita de forma errada, que gerou expectativas e frustrações de ambos os lados pois, quando se contrata mal, a possibilidade de dar certo é mínima. A frustração decorre essencialmente de um processo equivocado de ajuste de expectativas e esclarecimento de limites e possibilidades entre contratante e contratado. A rotatividade de trabalhadores nas empresas é causada essencialmente por quatro fatores: inadaptação com o ambiente de trabalho atual; expectativa de que a nova empresa será melhor; incapacidade do trabalhador de adaptar-se à cultura da organização; ou incapacidade da empresa (especialmente a liderança) de gerar um ambiente motivador que retenha as pessoas. Estatisticamente, sabe-se que em torno de 20% das contratações não funcionam; por isso, aplicar técnicas de seleção que aumentem a efetividade do processo ou contar com profissionais qualificados para isso é essencial.

Vale ressaltar que o custo da substituição de um trabalhador vai além das verbas rescisórias, podendo alcançar de três a 12 vezes o salário nominal, dependendo do tempo de empresa e do cargo de quem está se demitindo.

Marcelo Maulepes, diretor da consultoria de coaching e gestão de pessoas Relatom, atua como executivo há 20 anos e é presidente do International Coach Federation no Paraná.

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