O governo de São Paulo anunciou no fim de março, como uma das principais medidas de combate à crise hídrica que atravessa, a retomada do projeto de recomposição de matas ciliares no entorno das suas principais bacias hidrográficas. A meta dos paulistas é plantar, em dois anos, 6,3 milhões de mudas, restaurando assim cerca de 4,4 mil hectares da vegetação que protegerá os rios de erosões e assoreamento, e facilitará a infiltração da água da chuva nos lençóis freáticos.
É inevitável ver a preocupação de São Paulo e não lembrar do que fizemos no Paraná com o Programa Mata Ciliar, pois foi aqui que criamos o maior programa de recuperação e recomposição de matas ciliares do mundo, reconhecido pela Secretaria de Biodiversidade da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2008, na cidade de Colônia (Alemanha). Aqui plantamos mais de 115 milhões de árvores nativas em todo o estado – mais de dez árvores para cada paranaense – entre 2004 e 2010.
É preciso ter consciência de que não existe fábrica de água ou uma fórmula mágica
No início tínhamos o objetivo de reverter o processo histórico de degradação da cobertura florestal do Paraná. Mas com o passar dos anos fomos avançando, estabelecendo metas mais ousadas. Isso só foi possível graças ao alcance que o programa teve, à sensibilização de todas as entidades públicas e privadas do estado e, principalmente, graças aos agricultores, que começaram a perceber que recuperar a mata ciliar de suas propriedades era necessário para o equilíbrio ambiental e também uma garantia de produção agrícola. Foram envolvidos 133 mil agricultores, que se transformaram em verdadeiros agentes ambientais.
E como conseguimos fazer isso? Produzindo e oferecendo as mudas nativas; reestruturando os 20 viveiros regionais do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e doando outros 422 viveiros, sementes e adubos aos conveniados – prefeituras, colégios agrícolas, cooperativas, Apaes, centros de menores infratores, ONGs, entidades públicas e privadas. Não havia canto do Paraná que não tivesse um viveiro de produção de mudas com mais de 60 espécies nativas.
As marcas deixadas pelo Mata Ciliar estão ainda hoje por todo o Paraná. São consequência dele, e que considero tão essenciais quanto o plantio feito, os 23 mil hectares de áreas “abandonadas” para regeneração natural da mata ciliar, o sequestro de quase 3 milhões de toneladas de gás carbônico da atmosfera e a recuperação de mais de 5 mil nascentes.
Os paranaenses, sobretudo os diretamente envolvidos, devem ter orgulho desse feito inigualável no mundo. Há muito tempo já antevíamos a hoje propalada crise hídrica e sabíamos que as florestas eram responsáveis pelos nossos “rios aéreos”, pois trazem a água da chuva. Fomos vanguarda mundial, modelo para os outros estados e países em termos de recuperação florestal e proteção dos recursos hídricos.
É preciso ter consciência de que não existe fábrica de água ou uma fórmula mágica. Basta olharmos para o símbolo da crise hídrica paulista, o Cantareira, e vermos que suas margens estão peladas, sem proteção. São Paulo só descobriu agora que floresta é sinônimo de água na torneira, coisa que o Paraná já vem dizendo há mais de uma década.
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