Quantos livros você leu neste ano?

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Pesquisa divulgada pela Federação do Comércio do Rio de Janeiro mostrou: 70% dos brasileiros não leem um livro sequer por ano. Essa situação deve se estender para revistas e jornais e só se agrava cada vez mais.

Isso decorre da falta de hábito do brasileiro de buscar na leitura prazer e satisfação de sua curiosidade, do baixo investimento que ele faz em estudos, da falta de vontade política para estimular a leitura, do processo tardio de alfabetização da população do Brasil: sua obrigatoriedade data de meados de 1930, não tendo 100 anos.

No Brasil prevalece fortemente a cultura da oralidade sobre a cultura letrada, esta dominante na Europa. Lá, ao contrário daqui, o livro sempre desempenhou papel importante. Na Inglaterra, por exemplo, quase todos os passageiros de transporte coletivo estão sempre lendo algum livro. No Brasil, raramente se vê alguém pôr os olhos em livro num ônibus. Simplesmente não há esse hábito.

Sem ler, o brasileiro tem muita dificuldade para discutir questões um pouco mais complexas

O Brasil iniciou tardiamente o processo de escolarização em massa, só iniciada nos anos 1960. Então, o país entra na era do audiovisual, com tevê e cinema. Mais recentemente, vem a proliferação da internet, hoje acessada mais pela imagem que pelo texto. Ou seja, o Brasil pulou do analfabetismo direto para o audiovisual, não conseguindo formar uma cultura voltada a qualquer tipo de leitura.

Sem ler, o brasileiro tem muita dificuldade para discutir questões um pouco mais complexas, visto que sem esse hábito não são estimuladas as habilidades cognitivas, fundamentais para um debate mais denso de temas relevantes. Sem ler, tornam-se impraticáveis ações como se colocar no lugar do outro (o que é um ato de imaginação, esta alimentada pela leitura). Sem ler, não se conseguem soluções criativas para problemas do dia a dia, nem ir a fundo em debates éticos, nem apresentar fatos históricos como argumento.

Em resumo, o não ler leva o brasileiro a ser raso, com reduzida capacidade imaginativa (alavanca para a inovação e, em última análise, para toda a atividade humana de desenvolvimento), pouca informação sobre o mundo e o ambiente que o cerca, baixa capacidade para decisões ousadas. Ele se torna inapto para pensar criativamente, imaginar algo diferente no dia a dia ou admitir outros pontos de vista (o que demanda desprendimento intelectual).

Além disso tudo, triste é o fato de o brasileiro ainda valorizar mais o diploma que o conhecimento. Por tantos motivos, nosso povo não dá importância à leitura, ou à cultura de forma geral. No Brasil, ninguém é, em verdade, devidamente valorizado por ser culto. Ninguém!

Se você leu até aqui este artigo de jornal, é uma rara exceção. Por isso, como brasileiro, merece aplauso! Mas o fato é que hoje um brasileiro acaba mais valorizado pelo tamanho da casa própria, pelo volume da conta bancária e pela marca do seu carro; não, porém, pelo grau de cultura e educação que possua. Mesmo quem gasta dinheiro para estudar não vai atrás de cultura: busca o dinheiro que o diploma pode lhe dar.

A grande esperança é que o brasileiro, um dia, perceba que ele pode, se continuar assim, perder tudo, inclusive seu trabalho, seus bens e até a sua saúde. Mas ninguém lhe poderá tirar conhecimentos nem as habilidades cognitivas adquiridas pela leitura.