A decisão de quem será o próximo representante político do Brasil e da China acontece em períodos próximos. No dia 30 de outubro, os brasileiros irão às urnas definir em segundo turno quem será o próximo presidente do Brasil. Já na China, a decisão veio no último dia 22, no 20º Congresso do Partido Comunista da China (PCCh), que – sem surpresa – manteve Xi Jinping como secretário-geral do PCCh e presidente da China.
Tanto para China quanto para o Brasil manter os indicadores econômicos em crescimento é fundamental. Até porque favorecer o bolso do cidadão e fazer a economia girar são fatores cruciais para um governo perdurar. No comércio exterior do Brasil, a China ocupa o primeiro lugar como destinatário das exportações brasileiras e também o primeiro lugar entre os países que mais vendem para o mercado brasileiro. Uma mudança política em ambos os países gera consequências para a relação bilateral entre os países. Com isso, a postura das duas nações, em um cenário onde Bolsonaro ou Lula assume a Presidência, precisa ser analisada.
O movimento Democracia Sem Fronteiras pontua que, em caso de vitória do atual presidente, Jair Bolsonaro, a relação entre Brasil e China não deverá sofrer grandes alterações, mantendo-se uma relação estritamente comercial, que não adentra questões culturais, tampouco avança em pautas que ultrapassam os acordos econômicos.
Em 2021, o Brasil vendeu para o mundo US$ 44 bilhões a mais do que comprou, e a China respondeu por US$ 23,4 bilhões deste saldo. Bolsonaro não deixou questões políticas atrapalharem as relações comerciais, o que fortalece tanto o Brasil quanto a China.
Já numa eventual vitória do ex-presidente Lula, a situação mudará, pois, a forma do governo petista se relacionar com a China é mais próxima, uma vez que compartilham os ideais comuns de neutralização dos opositores e modo de governo.
A subida ao poder de um governo de esquerda, que compactua com a forma política que Xi Jinping trata as questões sociais no território chinês, coloca em risco a imparcialidade de um monitoramento dos direitos humanos. Isto porque para um governo comunista se manter no poder, ele necessita que seus opositores não possuam liberdade de expressão, silenciando, por meio da regulamentação da mídia, todas as denúncias que surjam referente a manifestações contrárias ao governo.
No primeiro turno das eleições brasileiras de 2022, na China, em três dos cinco colégios eleitorais – Pequim, Xangai e Cantão – a vitória foi de Lula. Em Taiwan e em Hong Kong, Jair Bolsonaro venceu. A vitória do atual presidente, Jair Bolsonaro, em regiões separatistas chinesas, demonstra que o eleitorado concorda com a forma que o Brasil está lidando, não só com a política interna, mas também com os posicionamentos contrários ao governo chinês e ao modo como é conduzido o respeito aos direitos humanos. Destacamos também que Taiwan e Hong Kong vivem sob constantes tensões com o governo chinês.
No início do 20º Congresso do Partido Comunista da China, o presidente Xi Jinping alertou em discurso questões sobre a segurança, uma de suas maiores preocupações após a tensão recente no Estreito de Taiwan. Xi declarou que pretende controlar totalmente a ilha autônoma, assim como fez com Hong Kong.
O movimento Democracia Sem Fronteiras alerta que Xi Jinping deseja ser o líder mais poderoso da história chinesa. Será seu 3º mandato como presidente, algo novo na China. O fato coloca em risco a autonomia chinesa referente aos direitos individuais da população, pois as autoridades chinesas não demonstram qualquer preocupação com as recorrentes notícias de violação de direitos humanos em seu território.
Em relação ao modelo democrático e a defesa dos direitos humanos, os pontos de maior atenção que o próximo presidente do Brasil deverá ter será em relação a não haver sinais de que a China altere a sua forma autoritária de conduzir a população e continue a silenciar as denúncias contrárias ao governo.
Gabriele Oliveira é advogada e porta-voz do movimento o Democracia Sem Fronteiras (DSF).