Desde de outubro do ano passado o dólar vem perdendo valor no mundo, o que favorece o real e a que tudo indica deve permanecer com o fim do ciclo de alta nos juros nos EUA e o bom diferencial de juros interno e externo, além do enfraquecimento de pautas políticas com impactos fiscais em Brasília e estresses de transição de governo.
Os motivos dessa volatilidade se dão por diversos fatores, entre eles é preciso considerar que a semana foi de agenda doméstica fraca e o foco todo esteve voltado ao exterior, com divulgação dos dados de pedidos semanais de seguro-desemprego nos EUA, que atingem 186 mil, em um consenso de 205 mil e ainda, conforme divulgado hoje (27), núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), subiu 0,3% na comparação com novembro, e 4,4% na base anual, ambos em linha com o esperado pelo mercado. O dado corrobora a expectativa de que o Federal Reserve, o Banco Central dos EUA, deve desacelerar o ritmo de aumento da taxa de juros para 0,25 ponto percentual no encontro da próxima quarta-feira, para a faixa entre 4,50% e 4,75%.
O Banco Central pode intervir e vender dólares no mercado, aumentando a oferta da moeda e pressionando o preço para baixo.
O mercado ainda avalia o risco de os EUA enfrentarem uma recessão econômica neste ano ou, pelo menos, uma forte desaceleração. Em contrapartida, hoje (27) a moeda norte-americana registrou alta de 0,54% às 13h09, cotado a R$ 5,10. Isso ocorre em decorrência da primeira leitura do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre dos Estados Unidos, o que sustenta ganhos das bolsas americanas e da moeda. O PIB dos EUA cresceu 2,9% no quarto trimestre ante o anterior, acima do esperado pelo mercado.
Na quinta-feira passada (26), o Banco Central, após identificar um erro na série histórica do fluxo cambial de 2022, revisou o resultado e passou de uma entrada líquida de 9,574 bilhões de dólares para uma saída de 3,233 bilhões de dólares. Com isso, o saldo líquido de câmbio contratado no ano foi reduzido nessa mesma proporção.
No Brasil, os recentes anúncios do ministro da Fazenda sinalizando comprometimento fiscal com medidas que visam reduzir o déficit primário do país acalmaram os ânimos do mercado. Dessa maneira, a Selic brasileira, atualmente em 13,75% ao ano, fica mais vantajosa em relação aos juros americanos e atrai mais capital estrangeiro ao país, mesmo considerando o risco Brasil, o que naturalmente valoriza o real. Isso faz com que a Selic fique mais atrativa para o fluxo de investimento estrangeiro e temos uma expectativa de que ela permanecerá alta por um bom tempo porque a inflação está elevada. Algumas casas inclusive projetam um ajuste residual do Banco Central.
Quando existe maior procura pela moeda estrangeira e a taxa de câmbio sobe a níveis não desejados, o Banco Central pode intervir e vender dólares no mercado, aumentando a oferta da moeda e pressionando o preço para baixo. Desse modo, o real volta a se valorizar em comparação ao dólar e a taxa de câmbio cai. Por outro lado, quando há uma grande entrada de dólares no país, o BC pode adquirir a moeda norte-americana e injetar mais reais na economia para não permitir a queda da taxa de câmbio.
Luiz Felipe Bazzo é formado em Administração de Empresas e pós-graduado em Finanças Empresariais e CEO do transferbank.
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