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Queda dos juros e retomada do crescimento

A grande inquietação manifestada presentemente pelos meios especializados repousa na resistência do Banco Central do Brasil (BC) em dar início a uma trajetória de redução dos juros básicos da economia, com desdobramentos benéficos sobre as demais modalidades de crédito para consumo, giro e inversões. Tal apreensão é justificada pela necessidade premente de reversão da mais intensa e longa recessão já registrada pelo aparelho de negócios do país, e na identificação de pressões inflacionárias quase que exclusivamente vinculadas a choques de oferta, expressos na subida dos preços dos alimentos, em razão das injunções de caráter climático.

Afora a fragilidade fiscal e financeira das contas governamentais, conhecida como déficit público, os focos de inflação pelo lado da demanda, sintetizados no acréscimo real do montante de crédito ao setor privado (companhias e consumidores) e na evolução do salário médio real acima da produtividade, foram varridos do mapa conjuntural pelos desdobramentos contracionistas da política macroeconômica no emprego e na renda.

Para piorar, a anemia observada na variável investimento, atrelada à despencada dos lucros corporativos e da confiança, revela-se absolutamente incompatível com qualquer aspiração séria de desencadeamento de um novo estágio expansivo. A formação bruta de capital fixo (aplicação em máquinas, equipamentos e instalações) chegou a 16,8% do PIB, entre abril e junho de 2016, o que representa o menor nível desde o segundo trimestre de 2003, quando atingiu 16,4% do PIB.

O BC ignora a ocorrência de uma indisfarçável colaboração do cenário depressivo

Na época, o país amargou forte retração nos patamares de atividade, derivada da compra de credibilidade, por parte da administração Lula, junto aos mercados, por meio da troca da retórica desenvolvimentista, utilizada durante o período eleitoral de 2002, pela intensificação do conservadorismo monetário, praticado nos tempos de Fernando Henrique Cardoso (FHC).

Logo, é fácil perceber que a autoridade monetária vem abdicando da deflagração de um processo de diminuição estrutural dos juros, por priorizar, em vez da eliminação das tensões inflacionárias, a rolagem da dívida mobiliária federal interna. Aliás, esta somou, em julho de 2016, R$ 2.832,2 bilhões – o que corresponde a 46,7% do PIB, com cerca de 20%, ou quase R$ 550 bilhões, vencendo em curto prazo (fins de 2016 e 2017) –, em flagrante fragilização desde 2014, com a ampliação das dificuldades de financiamento dos desequilíbrios fiscais das instâncias públicas, agravadas pela perda do grau de investimento do passivo soberano do país, imposta pelas agências internacionais de classificação de risco.

Ao reprisar posturas passivas, o BC ignora a ocorrência de uma indisfarçável colaboração do cenário depressivo, marcado por taxas recordes de desocupação da mão de obra e ociosidade das plantas fabris, para a conformação de um curso cadente da inflação em médio prazo.

Esse panorama prospectivo, acompanhado de indicações de concretização do ajuste fiscal – notadamente com a recente aprovação das desvinculações das receitas da União (DRU); a provável autorização, pelo Congresso, da limitação constitucional dos gastos públicos; as perspectivas de avanço na regulamentação dos programas de concessão e privatizações; e o encaminhamento de outras reformas institucionais –, abre flancos para a compressão dos juros, ingrediente indispensável à recuperação da economia e, inclusive, ao afastamento da iminência de insolvência do governo, a partir da elevação das receitas e da contração dos encargos financeiros incidentes sobre a dívida pública.

A independência operacional do BC dispensa-o de permanecer na espera de mensagens do Palácio do Planalto, que, diga-se de passagem, ainda está suficientemente perdido em articulações políticas com um Legislativo pouco qualificado, que a democracia da nação terá de tolerar até o fim de 2018. Até porque o resgate da lucidez na condução da estratégia econômica passa, invariavelmente, pelo urgente retorno do giro da roda e abandono das batalhas contra os verdadeiros “moinhos de vento”, que servem apenas como disfarce à preservação do statu quo voltado à multiplicação da riqueza financeira por aqui.

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