O título sugestivo é de um artigo que coincide com pesquisa, na qual são apontados diversos indicadores que demonstram o impacto da Covid-19 sobre a saúde mental infantil. O tema ganha em relevância, se levarmos em conta que estamos no “Setembro Amarelo”, mês de conscientização sobre a saúde mental e de prevenção ao suicídio.
O perfil sociodemográfico do estudo, que ainda é preliminar e está aberto à participação, incluiu 1.861 crianças de todo o país, na faixa etária entre os 2 e os 12 anos. Destas, 98,8% estavam em isolamento havia mais de cinco semanas. Um total de 83,4% delas estão tendo aulas a distância (computador ou telefone), e 11% estão com as aulas suspensas.
A pesquisa demonstrou que, durante a pandemia, 68,7% das crianças não tiveram contato físico com outras crianças (com exceção das que têm irmãos ou irmãs). Os pais foram ouvidos para relatarem diferenças de comportamento dos filhos, de acordo com diferentes faixas etárias (2 a 3 anos; 4 a 10 anos; e 11 a 12 anos).
A maioria das crianças e adolescentes, em todas as idades, demonstrou sentir falta dos amigos, e/ou da escola, e/ou da família. Irritabilidade, birras, brigas, contrariedade, teimosia, dificuldade em interagir foram outras situações comuns detectadas no estudo.
Já em relação ao artigo, que mereceu destaque no portal da SBP, a primeira reflexão feita foi a pergunta: “e as crianças, como estão inseridas neste cenário, afastadas da escola, confinadas dentro de casa, sem a convivência com outras crianças e sofrendo as consequências tanto quanto os adultos?”.
O impacto do isolamento sobre a saúde mental pode ser devastador na infância. Infelizmente, pouco ou quase nada se fala a esse respeito. Mudou a rotina das famílias, as aulas agora são on-line, não há lazer, atividades físicas, contato com amigos. Tudo impacta diretamente no estado emocional das crianças. O futuro emocional da atual geração de crianças já está comprometido; como poderemos evitar consequências maiores?
A Organização Mundial de Saúde (OMS) já havia feito um apelo, no primeiro semestre deste ano, para que se preservasse o bem-estar das crianças. Esquecidas em grande parte da crise, elas têm alteração no sono e no humor e, no longo prazo, apresentam sinais de hiperatividade, agitação, apatia e depressão.
A organização Save The Children constatou que uma em cada seis crianças espanholas sentiu-se deprimida durante o isolamento. A excessiva exposição ao ambiente virtual ao qual as crianças são submetidas contraria as recomendações da SBP, conforme consta do documento de alerta publicado pela entidade este ano.
Existe uma necessidade urgente com o objetivo de se traçar um plano de ação para proteger a saúde mental das crianças. Pais e educadores precisam ser orientados a identificar sinais precoces de comprometimento da saúde mental infantil. Crianças precisam ser tiradas da “invisibilidade” na qual foram colocadas. Sem um olhar cuidadoso, nossas crianças pagarão um alto preço em um futuro próximo.
Juliana Gomes Loyola Presa é médica e integrante do Departamento Científico de Dermatologia da Sociedade Paranaense de Pediatria (SPP). Ana Paula Matzenbacher Ville e Letícia Staszczak são acadêmicas e integrantes da Liga Acadêmica de Pediatria.
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