Imagem ilustrativa.| Foto: Arquivo / Gazeta do Povo
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Você, eu e praticamente o mundo inteiro sabemos que o Brasil é, muito provavelmente, o país com maior miscigenação do mundo (sim, eu sei, miscigenação essa oriunda de invasão e exploração de outros povos sobretudo). Entretanto, o que muitos de nós não conseguimos entender ou não queremos entender é por que – até hoje – ainda há tamanha desigualdade entre nós.

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É sabido também que pessoas negras (pretas e pardas) representam 56% da população brasileira. Nesse sentido, não seria lógico que estivessem as juventudes negras, por exemplo, ocupando as inúmeras carteiras das universidades, especialmente das públicas? Graças às políticas de cotas, o número de alunos negros no ensino superior cresceu quase 400%, entre os anos de 2010 e 2019, segundo dados do site Quero Bolsa. Apesar desse dado, tanto homens como mulheres negros ainda são minoria em cargos de liderança/gestão em organizações privadas e públicas no Brasil.

Na história do Brasil, temos assistido calados à implantação de ideias e projetos que têm como objetivo engessar a educação.

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Se, em números, a população negra é superior à branca, ou seja, se são maioria, não seria natural que também superasse os brancos dentro das instituições de ensino? Por que jovens negros e negras não são vistos ocupando espaços de conhecimento e produção da ciência no Brasil? A quem, de fato, interessa que as juventudes negras não estejam acessando vagas em universidades, estudando, aprendendo, pensando, ganhando bolsas de estudos, participando de congressos, recebendo prêmios acadêmicos e tendo suas pesquisas como referências entre os pares nas academias?

Como sociedade, mais do que respostas, urge que saibamos direcionar nossos esforços a quem pode e deve contribuir para mudar tais cenários. Urge, ainda, que saibamos fazer as perguntas, discutir as pautas sociais e compartilhar as reflexões no sentido de buscar alternativas para soluções viáveis. Conforme números publicados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2020, em nosso país, 18% dos jovens negros (de 18 a 24 anos) estavam cursando uma universidade. Já de acordo com levantamento realizado pela Liga de Ciência Preta Brasileira, também em 2020, dentre os alunos de pós-graduação, 2,7% são pretos, 12,7% são pardos, 2% são amarelos, menos de 0,5% é indígena e 82,7% são brancos.

A diferença é abismal, gritante e persevera a cada ano. A lógica social é perversa, desumana e cruel. Infelizmente, por muito tempo, na história do Brasil, temos assistido calados, à implantação de ideias e projetos que têm como objetivo engessar a educação e torná-la inacessível para uma extensa maioria.

Felizmente, por outro lado, temos acompanhado iniciativas de programas educacionais sendo criadas para jovens e profissionais negros, principalmente no mercado de tecnologia, que segundo projeção da IDC, deve movimentar cerca de US$ 80 bilhões em 2023. Velhos tempos nos mobilizam a novos olhares. Pois que venham grandes dias, estaremos de livros em punho.

Patricia da Rosa Teixeira, licenciada em Letras-Português/Inglês, especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior, mestre e doutora em Letras – Estudos Linguísticos e pós-graduanda em Educação Social e Cidadania, é professora da Faculdade ITH.

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