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O governo federal colocou na estrada quatro ministros em busca de possíveis lideranças dos caminhoneiros, que estão praticamente parando o país com sucessivos bloqueios de rodovias. O governo descobriu que estava na banguela, sem qualquer controle desse movimento, buscando alguém capaz de puxar o freio.

A culpa, sabem os ministros colocados em ação pela presidente Dilma Rousseff, como divulgou a mídia, está nas constantes derrapagens dos responsáveis pela política econômica dos anos recentes. Os desajustes e desarranjos foram se somando e a sociedade percebe, sente no bolso e no mercado a inflação, os juros absurdos, as contas governamentais no vermelho.

Duas das principais reivindicações dos caminhoneiros – fretes e redução no preço do óleo diesel – deveriam ser resolvidas pelo velho e sempre eficaz remédio do mercado: a oferta e procura. Os mesmos celulares, smartphones e redes sociais que direcionam motoristas nos protestos também trazem outras informações. Para quem vive na boleia de um caminhão, é incompreensível saber que há queda abrupta do preço do petróleo e seus derivados em todos os países do mundo enquanto no Brasil a gasolina e o diesel sofrem reajustes.

Desde o governo Juscelino Kubitschek (1955-1960) o oxigênio da economia brasileira está nos buracos, lamaçais e asfalto das rodovias. Os que mais sabem delas, seus maiores especialistas, estão balançando o coreto do país. Sabem e enchem o peito para dizer que sem eles o Brasil empaca. Ocorre que, ao atirarem na direção de um alvo, estão espalhando chumbo em outras direções. Ao impedir que cargas perecíveis transitem pelas rodovias, atingem o trabalho e a renda de milhares de trabalhadores e produtores rurais paranaenses, a grande maioria pequenos proprietários.

Desde o governo Juscelino Kubitschek o oxigênio da economia brasileira está nos buracos, lamaçais e asfalto das rodovias

Para exemplificar: diariamente são produzidos e processados 12 milhões de litros de leite por dia, por cerca de 115 mil produtores e 300 indústrias de laticínios no Paraná; estima-se que são abatidos 5 milhões de frangos por dia, resultado do trabalho de 20 mil avicultores paranaenses, responsáveis por um rebanho de 300 milhões de aves. Esse enorme rebanho está em risco de colapso e causará danos econômicos e sanitários inimagináveis, porque não existe logística para o descarte das carcaças. Os milhões de litros de leite serão jogados fora, podendo causar danos ambientais.

Essas são apenas algumas das situações que os caminhoneiros podem evitar, caso deixem de impedir o trânsito de cargas perecíveis. Acrescente-se a isso os problemas de desabastecimento de combustíveis e de complementos industriais indispensáveis na transformação de produtos agroindustriais.

O atual governo vem contando com a docilidade de lideranças sindicais vinculadas ao partido que está no poder, quando surgem episódios de reivindicações de trabalhadores. O atual movimento dos caminhoneiros, ao contrário, pela sua rápida disseminação, pegou o governo de surpresa e a própria sociedade apenas lentamente vai percebendo suas dimensões, caso continue.

Como sua raiz está no comportamento cambaleante e desorientado da política econômica dos últimos anos, vale o provérbio: “quem pariu Mateus que o embale”.

Ágide Meneguette é presidente do Sistema Faep.
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