| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Tradicionalmente, os modelos de Estado mais avançados são formados pelo inter-relacionamento dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, cada qual com sua importância e atribuição. Essa foi a fórmula encontrada para tentar impedir a concentração do poder e, consequentemente, o seu abuso. Mas a convivência entre esses três poderes nunca foi tarefa fácil e representa um dos grandes desafios das modernas democracias liberais, principalmente num momento em que cada vez mais a participação social em decisões públicas vem sendo reivindicada.

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No Brasil de hoje é significativa a descrença popular nesses três poderes. É isso o que mostram as manifestações de rua e as redes sociais. O brasileiro cansou, é verdade! Mas esse sentimento, dependendo da forma como for explorado, possui um outro lado da moeda.

Será que o Brasil realmente precisava de Castelo em 1964, ou de Vargas em 1930, ou ainda de Deodoro em 1889?

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Ao se fazer um paralelo histórico e, claro, guardando as devidas proporções, não é difícil lembrar que na Alemanha pré-nazista o caos institucional e a descrença com a política imperavam quando o então inexpressivo Adolf Hitler surgiu com sua verborragia, arrastando multidões aos seus comícios e vendendo ilusões utilizando a velha tática de escolher um culpado para todos os problemas – no caso, os judeus.

E nesses tristes trópicos? Quem seria o culpado?

Agressões físicas e verbais a políticos, manifestações populares em que imagens de figuras públicas viram alvos de tomates, e instituições da República que, com pretensões outras, extrapolam suas funções, lembram, de certo modo, o que acontecia, de maneira bem mais radical, nos anos que antecederam à ascensão do nazismo.

O sentimento de ódio à classe política e às instituições públicas leva a generalizações injustas e, principalmente, fomentam o surgimento dos “infalíveis” salvadores da pátria. A falta de confiança nos poderes da União não justifica o endosso social a salvadores da pátria e suas políticas de ruptura.

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Será que o Brasil realmente precisava de Castelo em 1964, ou de Vargas em 1930, ou ainda de Deodoro em 1889? Um processo histórico de amadurecimento político e social, ainda que mais demorado, não teria sido melhor? Países devem ser construídos por sociedades vencedoras e não por redentores supostamente predestinados.

A pauta social no Brasil deve ser a do fortalecimento das instituições, o que passa pela defesa da Operação Lava Jato, mas também dos poderes da União, sem deixar, é claro, de responsabilizar aqueles que não merecem a confiança dos brasileiros. E, para o bem do país, que nas próximas eleições não surja nenhum salvífico indefectível com um culpado a tiracolo.

Antenor Demeterco Neto é advogado e doutor em Direito pela PUCPR.