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Ao chegar próximo da terceira idade e, portanto, perto da aposentadoria, a acessibilidade que as cidades proporcionam passou a ser uma constante observação durante minhas viagens, algo que até pouco tempo atrás passava-me desapercebido. Estive pela primeira vez em Vitória, capital do Espírito Santo, participando de uma conferência internacional por uma semana neste mês de julho. Durante o trajeto do aeroporto ao hotel, notei que o trânsito fluía e não vi lombadas. Havia sincronização dos sinais de trânsito nas grandes avenidas pelas quais o táxi se deslocava. Observei uma cidade bem sinalizada. Chamou-me atenção, durante o trajeto, o asfalto liso e sem aquelas emendas tão comuns no meu dia a dia – algumas ruas em Curitiba lembram a superfície lunar de tantos buracos e remendos. E, para minha surpresa, as tampas dos bueiros eram no mesmo nível da pavimentação das ruas. Pensei: alguém se preocupa com isso na administração dessa cidade!

Passei a maior parte da semana atarefado com o curso, mas nos momentos livres caminhava próximo ao hotel. Resolvi, no primeiro dia livre antes de meu retorno, estender as caminhadas. As calçadas permitiram. São feitas de concreto. São lisas. Planas. Simples. Cinzentas. Sem os coloridos e desenhos das pedras portuguesas, ou como nos petit-pavé aos quais estamos acostumados, porém não possuem pedras soltas, buracos nem desníveis. A cada esquina há rampas para os cadeirantes ou pessoas com outros tipos de deficiência motora. Dos meios-fios até uma parte dos passeios das calçadas existem lajotas com sinalização para os deficientes visuais, contornando inclusive as árvores ao longo das calçadas. As raízes das árvores não avançam e não destroem as calçadas, e Vitória é uma cidade bem arborizada. Até a escolha das árvores necessita de planejamento.

São poucos e raros os passeios das calçadas em Curitiba que nos permitem andar sem desviar de desníveis

Acostumei-me – e acredito que quase todos os curitibanos também se acostumaram – a pensar que moramos em uma cidade com uma das melhores qualidades de vida entre as capitais brasileiras. Parece que tal pensamento era verdade há uns dez anos. Hoje penso que não é mais assim. Sinto uma Curitiba que não tem se modernizado para enfrentar o volume crescente de veículos, e tampouco tem se preocupado com o pedestre. São poucos e raros os passeios das calçadas em Curitiba que nos permitem andar sem desviar de desníveis. A cada rua encontram-se pavimentos diferentes nas calçadas. Para exemplificar, somente na quadra onde moro, no bairro da Água Verde, existem cinco tipos de calçamentos diferentes. A escolha é inversamente proporcional ao bem-estar da população. São pequenas pedras que se soltam, ou revestimentos com fendas ou superfícies irregulares, dificultando a locomoção, principalmente dos idosos ou dos portadores de necessidades especiais.

Como previamente mencionei, preocupa-me o envelhecer e ter restrição no ir e vir, direito assegurado de cada um de nós – ou pior: sofrer quedas, provocando traumas e comprometendo a saúde em função da falta de planejamento das diversas administrações que se sucedem em nossa cidade.

Já passou da hora de ocorrerem mudanças em Curitiba para a melhoria da população. Não questiono modernizar o transporte público com a implantação de sistemas subterrâneos ou de superfície, ou a construção de viadutos e túneis para melhorar o fluxo de veículos. Não. Quero calçadas com passeios nos quais eu possa andar. Em qualquer local e nos mais diversos bairros. É um direito – ou, ao envelhecer, deverei permanecer em casa com medo de cair ao ir na padaria da esquina ou ao banco, ou ao me dirigir a uma praça ou parque para desfrutar da companhia de amigos? Não poderei caminhar com meus netos na minha cidade? Senhores administradores, cuidem de Curitiba fazendo-a amigável a seus moradores.

Edison Luiz Prisco Farias é professor de Anatomia da Universidade Federal do Paraná.
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