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Opinião do dia 1

Quo vadis?

E agora, para onde caminharão a economia e a população paranaense? Ainda não está claro e é fundamental que o esteja com a maior urgência possível. A pouca nitidez do pensamento geopolítico dos candidatos em relação a esse ponto não deixa muitas esperanças

O panorama eleitoral está definido, depois de meses de dúvida hamletiana do senador Osmar Dias, mas a campanha começou mal. A saga da candidatura pedetista só encontra paralelo nas novelas radiofônicas dos anos 50, em que ouvintes ansiosos suportavam meses de angústia para saber o desfecho dos amores incompreendidos e dos corações divididos. Outro episódio reminiscente dos anos 50 é a briga de sopapos entre Requião e Rubens Bueno, no mais puro estilo dos "farvestes" preferidos da garotada de então.

Agora, que tal passar a coisas mais importantes? Primeiro de tudo, é importante saber para onde cada candidato se propõe a conduzir o Paraná. Os especialistas em estratégia chamam isso de "posição desejada", um determinado estado futuro que se aspira para a economia e a população, pois é em função dessa posição que deverão ser moldadas as políticas e programas de ação dos governantes. Bento Munhoz da Rocha Netto queria ver um Paraná uno, livre de fragmentações regionalistas e, assim, lutou contra o desmembramento da área do Território do Iguaçu e o movimento separatista do norte para a criação do estado do Paranapanema. Ney Braga se propunha a reduzir a dependência do estado em relação à cafeicultura e a modernizar a economia e para isso criou o Fundo de Desenvolvimento Econômico e investiu pesadamente na infraestrutura. Paulo Pimentel acenou com um objetivo mais ambicioso, até onírico, a transformação do Paraná no segundo estado da federação. Jayme Canet Junior se propôs a eliminar os gargalos que amordaçavam a capacidade produtiva paranaense, especialmente no setor viário e, como decorrência, realizou o maior programa de investimentos públicos de toda nossa história. José Richa se concentrou mais no processo de desenvolvimento do que em seus objetivos, e assim enfatizou a participação popular, as organizações da sociedade e o diálogo político. Jaime Lerner vislumbrou a integração regional do estado em uma rede de cidades e regiões ligadas por um anel de infraestrutura para se beneficiar da desconcentração econômica do sudeste brasileiro.

E agora, para onde caminharão a economia e a população paranaense? Ainda não está claro e é fundamental que o esteja com a maior urgência possível. A pouca nitidez do pensamento geopolítico dos candidatos em relação a esse ponto não deixa muitas esperanças. Muito menos, a fluidez ideológica da política brasileira, em que – em função de suas conveniências eleitorais, os candidatos se sentem igualmente à vontade adotando da noite para o dia teses e posições totalmente antagônicas às que defendiam até então. Mas, de novo, essas definições a respeito "do que se pretende" (que não é a mesma coisa que "o que se espera") são fundamentais e inadiáveis.

O Paraná exige que aqueles que pretendem governá-lo sejam capazes de demonstrar um conhecimento sólido a respeito de problemas e contradições que estão se agravando a cada dia e que lhe ofereçam ideias concretas de como enfrentá-los. Como pretendem reverter o processo de empobrecimento de mais da metade dos municípios paranaenses? Como imaginam estancar e reduzir o processo de concentração econômica e fiscal que inchou a região metropolitana e enfraqueceu as grandes cidades do interior? Como irão agir para superar a nossa obsolescência visível na infraestrutura rodoviária e ferroviária e a obsolescência dos portos paranaenses? Como farão para dar um verdadeiro choque de qualidade na educação pública, tirando-a da mediocridade absoluta em que se encontra a educação brasileira? E o que farão para restaurar aquele mínimo de segurança pública a que todo cidadão tem direito de aspirar para si próprio, sua família e suas propriedades?

A época das declarações vagas e dos compromissos grandiloquentes e vazios de conteúdo tem de ceder espaço para declarações claras de onde se quer chegar e como faremos para chegar lá. O resto é conversa fiada.

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Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

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