| Foto: Pexels/Pixabay
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Quando criança, meu pai sintonizava sempre numa rádio diferente. Eu perguntava e ele respondia: “é a Rádio Colégio Estadual em AM”. Eram horas de música sem propaganda. Discos e mais discos da música mais complexa, mais elaborada, mais rica que já se produziu.

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Não lembro exatamente quando foi; eu devia estar no meio do Científico quando a rádio passou para FM. Eu estudava para o vestibular e me deliciava com a possibilidade daquele fundo musical. Estudando Matemática ia bem; Física também. Biologia. Já História, Geografia, Português de alguma forma colidiam, mesmo que a música não tivesse texto. Mas era como se falasse, como se ela pedisse para participar do texto.

Sinto falta de poder ligar o rádio e, em qualquer hora do dia e de qualquer lugar, ouvir a música magistral. Palestrina, Bach, Mozart, Beethoven – este que, nos 250 anos de nascimento, quase não foi ouvido aqui

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Eu não lembro que nome tinha a rádio. Acho que mudou, primeiro, para “Rádio Educativa”. Depois veio um político que a rebatizou como “Paraná Educativa”. Não sei por que nos dar tanto trabalho para nos acostumarmos. Pior, resolveram cortar toda e qualquer música que não tivesse sido escrita em solo brasileiro. Bom, nossa música também é universal. Mas nem toda música universal é brasileira. Foram anos de privação.

Depois voltou uma programação maravilhosa. Eu lembro do nome: José de Mello. Eu o admirei sem nunca tê-lo conhecido. Em qualidade FM, som estéreo, quase perfeito, em casa, no carro, e de graça. Que orgulho eu sentia de ser cidadão aqui deste estado. Quantas lições maravilhosas na voz do Oswaldo Colarusso, e quantas vezes ouvia a voz da Betina Müller só para ouvi-la falar, em italiano, La Cenerentola; em inglês, Simple Symphony; em alemão, Eine kleine Nachtmusik. E a galeria dos jazzistas no meio do horário do rush, 18 às 19 horas. Cultura universal.

Pois a rádio que hoje se chama “e-paraná” é uma qualquer. Tem notícias com ar de oficiais, não bastasse a Voz do Brasil. Tem aquela mesmice chamada MPB – mesmice, pois é muito do que toca em qualquer rádio comercial.

Falta eu poder ligar o rádio e, em qualquer hora do dia e de qualquer lugar, ouvir a música magistral. Palestrina, Bach, Mozart, Beethoven – este que, nos 250 anos de nascimento, quase não foi ouvido aqui; pudera, com a Orquestra Sinfônica parada. Quantas crianças paranaenses se sentiriam crianças universais, cidadãs universais.

Empurrar coisas maravilhosas para as 23 horas, para 1 da madrugada, reduzir a uma vez por semana. Há um sério desconhecimento de quem tomou essa decisão. Estão comprometendo o futuro do estado. Que o governador pense seriamente no estrago que causou em mudar o que já foi bom. Talvez se mudasse para melhor, para o que era na época do José de Mello – eu até me voluntario para pesquisar o paradeiro dele.

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Aloísio Leoni Schmid é professor da UFPR nos cursos de Arquitetura e Urbanismo, de Luteria (Construção de Instrumentos Musicais), e dos programas de pós-graduação em Engenharia Civil e Design.