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Estou plenamente de acordo com o povo judeu, que não deixa o mundo esquecer do Holocausto (Soah) e das perseguições anti-semitas ao longo da história. O mesmo devem fazer as vítimas dos genocídios de Ruanda, os armênios perseguidos e os descendentes de milhões varridos da terra por Stalin, bem como os mortos pelas ditaduras do Chile, do Paraguai, de Cuba, da Argentina, da Romênia, do Haiti, das guerras de Angola, de Moçambique, Serra Leoa... Acho mesmo que está até na hora de uma posição contra o anticristianismo militante, que vai se enfileirando mundo afora, com persistente má-fé, muitas vezes à desculpa de combater erros históricos das igrejas cristãs.

Tais erros podem ser olhados criticamente, suportam exame histórico. De muitos deles o magistralmente grande Papa João Paulo II se ocupou, em manifestações públicas de pedidos de perdão. Como no caso da Inquisição, que tantos judeus vitimou. O que não é justo é que se coloque viseira sobre o papel do cristianismo na História, ontem e hoje, lançando-lhe anátemas que distorcem seu papel-chave na montagem do Ocidente, seu papel civilizador. Essa gente não conhece história, ciência absolutamente secular?

Da Índia vem um dos exemplos de anticristianismo, objeto até de recente fala direta do Papa Bento XVI ao povo indiano: no estado de Orissa, um dos mais pobres do país, cristãos estão sendo exterminados às centenas, por conta de sua fé. E um dos novos santos que esse genocídio expõe ao mundo é uma jovem de nome Rajani Majhi, 20 anos, queimada viva por fanáticos hindus que não aceitavam seu trabalho, o de cuidar de dezenas de crianças num orfanato católico. Crianças dalits, os intocáveis, os chamados párias indianos, casta derradeira, que só pode lidar com a sujeira.

Naquele país continental, a um tempo rico e miserável, a Igreja Católica educa e dá atendimento social em 25 mil escola, o que incomoda os milenares "donos das almas". E a Igreja tem sido o refúgio seguro dos dalits, por exemplo, em busca de libertação do "carma" da servidão – algo que, no caso de Orissa, não tem sido suficiente.

De Rajani, parto para outra mulher, para examinar – mesmo que limitadamente – outra dimensão do anticristianismo militante dos dias atuais. É o caso de Sarah Palin, cristã episcopal, conservadora, vice da chapa encabeçada por John McCain na corrida presidencial dos Estados Unidos. Pois não é que ela comete o "pecado" de pregar contra o aborto, de defender o casamento bíblico, de manifestar sua visão sobre a inerrância da Bíblia (a qual, na minha opinião, não pode ser tomada ao pé da letra em matérias que não as de ordem moral)? Sarah Palin torna muito visível – mas ela se mantém inabalável em sua crença – de a quanto a sociedade secular de hoje pode chegar à pretendida desconstrução do cristianismo. Um cristianismo, no entanto, que é bom e bem usado, quando dá suporte a justos reclamos nas áreas social – trabalho, defesa do menor e da mulher, condenações à pena de morte, às ditaduras etc. Bom quando, no Brasil, foi campeão, com a CNBB, na defesa dos direitos humanos ultrajados ao longo da última ditadura.

Palin tem sido bombardeada pela mídia anticristã e pretensamente moderna, porque falhou, pronunciando o nome Iraque de forma incorreta (em inglês), porque come carne de alce, porque defende o direito de o cidadão possuir armas para sua defesa. Esses "defeitos" apenas dão suporte ao grande alvo da mídia, o cristianismo de Palin, que não nega o mestre dessa mulher que poderá até um dia governar os norte-americanos.

Palin vem de uma tradição religiosa de origem católica, a anglicana. O que se sabe é que ela, como Rajani, é um tipo especial de mulher cristã: em abril deu à luz ao seu bebê portador de síndrome de Down, porque não quis abortar. E o exibe com orgulho, quase primus interpares, ao lado dos outro quatro filhos jovens, bonitos, uma das meninas estando grávida, embora solteira.

A batalha anticristã tem várias faces, está em todos lugares, há até grupos fiéis ao Evangelho pensando em argüir na justiça contra o preconceito antictristão, sempre que manifestado contra pessoas, tal como fazem nossos irmãos judeus no caso do anti-semitismo. Uma das faces do anticristianismo militante assesta armas agora no STF, a favor do aborto, preocupadíssimo com a anaencefalia. Para quem recusa a idéia do transcendental, tudo parece ser razoável.

Aroldo Murá G. Haygert é jornalista, professor do Grupo Uninter, presidente do Instituto Ciência e Fé e comentarista da Rádio Banda B. É autor do livro Vozes do Paraná.

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