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A cada ano, estamos enxugando mais e mais gelo, quando se analisam as estatísticas do ensino médio. Embora tenha gerado polêmicas, a divulgação do desempenho de 25.484 escolas federais, estaduais e particulares, com fulcro nos exames do Enem, é uma atitude acertada, transparente e ratifica o que já se sabia: as escolas estaduais apresentam um pífio resultado, pois das mil escolas mais bem posicionadas, apenas 21 são geridas pelos governos estaduais. A que melhor se posiciona no Brasil ocupa a 115.ª colocação e no Paraná a 1.560.ª.

Cabe a ressalva de que a prova, não sendo obrigatória, apenas parte dos alunos de cada escola que nela se inscreve. Assim, há escolas (poucas) que direcionam os melhores alunos para obter uma boa figuração na lista. Porém isso é irrelevante quando se considera que o ranking provocou amplo debate na mídia, concedendo espaço para editorialistas, educadores, autoridades, pais etc. Esses debates, provocados pelos resultados do Enem, Saeb, Ideb, geram calor, mas também muita luz, projetando fachos luminosos sobre o espectro das mazelas da educação brasileira, especialmente no ensino médio. Os problemas mais contundentes residem no conteúdo programático, falta de recursos, desigualdade social, gestão, capacitação de professores, participação tímida dos pais, corporativismo, inserção de ideologias e correntes pedagógicas alienígenas e não consentâneas com a nossa realidade.

Para a superintendente do Instituto Unibanco Wanda Engel, o ensino médio é uma bomba-relógio que pode comprometer o desenvolvimento econômico do país. Muito pouco se fez nas últimas décadas na ampliação do ensino técnico público, especialmente para atrair os jovens das classes mais baixas, sem perspectiva de ingresso no ensino superior.

Diante do exposto, a consequência é um índice de reprovação que atinge 12,7%, o dobro do porcentual de 12 anos atrás. Dos 10,5 milhões de jovens na faixa etária de 15 a 17 anos, apenas 47,7% mantêm adequada relação idade/série. A cada período letivo, 1,9 milhão de jovens abandonam a escola.

Só a ação conjunta dos governos, escolas e famílias pode reverter essas estatísticas angustiantes. Além da ampliação das escolas técnicas e agrícolas, é necessário reduzir o conteúdo da atual grade curricular do ensino médio. O currículo está contaminado pelo elevado nível de exigência das boas universidades – não ao alcance da maioria dos alunos –, e o MEC não se capacita em tomar a dianteira para melhor detalhar o programa do Enem e principalmente enxugá-lo em 20% a 30%. Sendo penduricalhos desnecessários, não implica abaixamento no nível de aprendizagem.

O desempenho acadêmico depende essencialmente de melhorias nas condições socioeconômicas da população. E também de mudança cultural dos pais para que haja uma efetiva participação na vida escolar do filho. Porém a maioria dos pais não possui capacitação para esse acompanhamento.

Há três anos na companhia de minha família, alugamos uma caminhonete 4x4 em São Luiz e percorremos pontos turísticos e o pobre interior do Maranhão e do Piauí. Anteriormente o fizemos pelo Mato Grosso do Sul e mais recentemente pela Bahia. É alarmante constatar in loco a baixíssima escolaridade de nossas crianças e adolescentes. Longe de qualquer expectativa de futuro. Um círculo vicioso que se perpetua: a escola é ruim pois os alunos são fracos ou os alunos são fracos pois a escola é ruim?

Jacir J. Venturi, diretor de escola, foi professor do ensino fundamental, médio, pré-vestibular, da UFPR e da PUCPR

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