Aos poucos, e após ilusões dos primeiros tempos, a diplomacia de Obama volta ao realismo de poder
O apoio de Obama a um lugar permanente para a Índia no Conselho de Segurança da ONU consagra a posição indiana de principal aliado estratégico dos EUA no sul da Ásia. O presidente protesta não ter a intenção de conter os chineses. Contudo, a Índia fecha ao sul, objetivamente, muralha de alianças em torno da China, que parte ao norte do Japão e da Coreia do Sul. O arco passa por Cingapura, Indonésia, Vietnã, Malásia e todos os que olham para o poder naval dos EUA como proteção contra o poderio chinês, tentado a se afirmar nas ilhas disputadas por Pequim com os vizinhos.
Aos poucos, a diplomacia de Obama volta a uma posição de realismo de poder, após ilusões bem intencionadas dos primeiros tempos: a mão estendida ao Irã, o anúncio do fechamento de Guantánamo, a continuação da guerra no Afeganistão.
Uma delas tinha sido a proposta da "parceria para plasmar o século 21", na qual a China teria de ajudar a carregar o fardo global dos EUA. A falta de colaboração chinesa nas questões centrais aquecimento global, manipulação da moeda, superavit comercial levou os EUA a reagir na mesma moeda: venda de armas a Taiwan, recebimento do dalai-lama, oferta de mediação sobre as ilhas em disputa, agora a conclusão da aliança com a Índia.
Os resultados comerciais da visita a Nova Déli e o apoio indiano às emissões monetárias para estimular a economia dos EUA aportam raro sucesso diplomático a um presidente com mãos praticamente vazias em política externa. A ponto de que seus adversários já o consideram como foi Jimmy Carter entre Nixon e Reagan: um fugaz interlúdio de fraqueza entre presidentes dispostos a utilizar plenamente a superioridade militar americana.
Pode ser que a concentração dos EUA no combate ao terrorismo não passe de outro interlúdio fugaz, agora estratégico, entre adversários de longo prazo, a União Soviética no passado, a China no futuro.
O alinhamento da Índia se completa na véspera da comemoração dos 50 anos da reunião inaugural do Movimento Não-Alinhado de Tito, Nasser e Nehru. No mundo dominado por Moscou e Washington, a maneira de criar um espaço próprio era para os fundadores do Movimento a recusa do alinhamento.
Desaparecido o bipolarismo, esses países se realinharam de acordo com seus interesses, o Egito como principal intermediário no Oriente Médio, os sucessores da Iugoslávia aderindo à Europa e à Otan, a Índia como potência regional de reequilíbrio na zona de encontro de China, Paquistão, Afeganistão e Irã.
Os interesses que ditam a recomposição do quadro estratégico mundial parecem escapar ao Brasil, surpreendido com a falta de apoio da China, Rússia e Índia no acordo sobre o urânio do Irã. Se quiser evitar desgastes gratuitos, o país precisa entender que esses países agem por realismo estratégico nacional.
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