Em uma dinâmica de grupo, enquanto explicava um pouco da vaga, um dos candidatos levanta a mão e pergunta: “Posso ir ao banheiro?” Achei graça, me senti igual ao meu antigo professor de ciências do ensino médio. À noite, comentando sobre o fato com algumas pessoas, pensei: o que leva alguém a manter esse comportamento por tanto tempo após a formação no colégio? Fui pesquisar um pouco sobre a origem e a evolução da escola para ver se entendia um pouco do fenômeno.
A metodologia educacional que temos no Brasil foi criada na Prússia (hoje, região da Alemanha e Polônia) em 1806. O estado assumia a criação e educação das crianças desde cedo, com o objetivo de criar soldados e cidadãos leais e obedientes. Por isso, a escola foi estruturada do jeito que é: dividida em blocos de aulas com horários predeterminados, alertas entre aulas e rigidez nas regras. Esse fator também explica a existência da estrutura hierárquica de comando (diretor, coordenador, professor, monitor de corredor...), a divisão feita por classes de pessoas da mesma idade e não por interesse ou habilidade, e um conteúdo universal definido pelo Estado.
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Após dois séculos, tudo evoluiu: os automóveis, a comunicação, a forma de trabalhar, relacionamentos, etc. Entretanto, o sistema de educação prevalece o mesmo. Com tanta tecnologia e a quantidade de informação ao alcance das mãos, não é de se estranhar que tantas crianças e jovens sejam diagnosticados com TDAH? Será que elas estão sendo estimuladas da maneira correta? Pois é.
O modelo tradicional de educação supervaloriza determinados conhecimentos em detrimento de outros, não oferta a pluralidade de ideias e instiga o uso da decoreba para a aprovação, um verdadeiro teste de memória, além de sustentar uma comunicação quase unilateral, com emissor e receptor, em uma época em que todos somos produtores e interlocutores de informação. Isso resulta em profissionais com deficiências básicas de conhecimento e jovens cada vez mais desinteressados nos estudos.
É quase unanime a ideia de que, com mais educação, a sociedade seria melhor. Porém, não são as escolas que temos hoje que vão formar melhores pessoas, independentes, questionadoras, capazes de fazerem boas escolhas.
Na verdade, estamos criando adultos sem objetivos e inaptos, a construírem ideais que nem sempre são seus. Estamos destruindo e limitando seus sonhos.
Muitas alterações precisam ser feitas para que este resultado seja diferente, mas enquanto o sistema não muda, a evolução da tecnologia mostra outras possibilidades, como a parceria da Khan Academy com a Microsoft – que bancou o projeto apostando no aumento da venda de seus tablets – com salas de aula globais online, e os mais variados conteúdos e maneiras de aprendizado, tudo de graça. A implantação de recursos tecnológicos que tornem as aulas mais atraentes e dinâmicas também podem ser uma boa aposta para reverter este quadro.
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Depois de entender tudo isso, percebi que o sistema é eficiente, se considerar a forma que foi criado e seu objetivo inicial. Na verdade, eu estava errado ao ter me surpreendido com o candidato que levantou a mão. Deveria, de fato, ter me espantado com as duas pessoas que contratei: com atitude, vontade, sem medo de arriscar, cheios de sonhos e que sabem bem o que querem. Esse sim é o verdadeiro choque.
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