As pautas não estão dentro das redações. Elas gritam em cada esquina. É só pôr o pé na rua e a reportagem salta na nossa frente. Essa percepção, infelizmente, é a que mais falta aos meios de comunicação. Os diários perderam o cheiro do asfalto, o fascínio da vida, o drama do cotidiano.
Escrevo esta coluna antes do encerramento das eleições municipais. Mas uma coisa é certa: a recuperação da força da mídia depende de uma providência muito simples: sair às ruas, olhar a vida, fazer reportagem, fiscalizar o poder. Só isso.
Você, amigo leitor, tem ido ao centro antigo de São Paulo? Faça o teste. É um convite à depressão. Não existe Prozac que resolva. É uma cidade assustadora: edifícios pichados, prédios invadidos, gente sofrida e abandonada, prostituição a céu aberto, zumbis afundados no crack, uma cidade sem alma e desfigurada pelas cicatrizes da ausência criminosa do poder público.
E não é um fato novo. A cidade de São Paulo foi demitida por seus governantes já faz um bom tempo. E nós, jornalistas, precisamos mostrar a realidade. Não podemos ficar reféns das assessorias de comunicação, do marketing político e das maquiagens que falam de uma revitalização que só existe no papel. Temos o dever de pôr o dedo na chaga. Fazer reportagem. Escancarar as contradições entre o discurso de ocasião e a realidade cruel.
Também o Brasil, um país continental, sem conflitos externos, com um povo bom e trabalhador, ainda está na banguela. Os serviços públicos estão à deriva. Basta pensar na educação. A competitividade global reclama crescentemente gente bem formada. Quando comparamos a revolução educacional sul-coreana com a desqualificação da nossa educação, dá vontade de chorar. A assustadora falta de mão de obra com formação mínima é um gritante atestado do descalabro da “Pátria Educadora”.
Políticos sempre exibem números chamativos. E daí? Educação não é prédio. Muito menos galpão. É muito mais. É projeto pedagógico. É exigência. É liberdade. É humanismo. É aposta na formação do cidadão com sensibilidade e senso crítico.
O custo humano e social da incompetência e da corrupção brasileiras é assustador. O dinheiro que desaparece nas cuecas e no ralo da delinquência é uma tremenda injustiça, uma bofetada na cidadania, um câncer que, aos poucos e insidiosamente, vai minando a República. As instituições perdem credibilidade numa velocidade assustadora.
Os protestos que, em 2013, tomaram conta das cidades precisam ser interpretados à luz da corrupção epidêmica, da impunidade cínica e da incompetência absoluta da gestão pública. Havia, e continua presente, uma clara percepção de que o Estado está na contramão da sociedade. O cidadão paga impostos extorsivos e o retorno dos governos é quase zero. Tudo o que depende do Estado funciona mal. Educação, saúde, segurança, transporte são incompatíveis com o tamanho e a importância do Brasil.
São padrões de política em que a corrupção rola solta. A percepção de impunidade é muito forte. O projeto de desmonte da Lava Jato, orquestrada pelos que ocupam gabinetes no andar de cima desta República, começa a ficar muito evidente. Os políticos precisam acordar. A gordura dos anos de bonança acabou. A realidade está gritando no bolso e na frustração das pessoas.
Nós, jornalistas, temos um papel importante. Devemos dar a notícia com toda a clareza. Precisamos fugir do jornalismo declaratório. Nossa missão é confrontar a declaração do governante com a realidade dos fatos. Não se pode permitir que as assessorias de comunicação dos políticos definam o que deve ou não ser coberto. O jornalismo de registro, pobre e simplificador, repercute o Brasil oficial, mas oculta a verdadeira dimensão do País real. Precisamos fugir do espetáculo e fazer a opção pela informação. Só assim, com equilíbrio e didatismo, conseguiremos separar a notícia do lixo declaratório.
Não façamos jornalismo de espuma. Façamos reportagem. Informação é arma da cidadania. Faz toda diferença.
Carlos Alberto Di Franco é jornalista.