É surpreendente como o tema educação pode ser abrangente. Muitas vezes, tratamos dele como algo restrito – escolas, universidades e cursos seriam os responsáveis por educar, com os professores como interlocutores dos pilares essenciais de cada área – mas não é bem assim: no cotidiano, passamos por situações que, mediante autocontrole e reflexão, bastariam para adquirirmos conhecimento e sabedoria.
Trata-se, mais do que uma opinião, de uma teoria do conhecimento: o empirismo – vertente da filosofia que acreditava no conhecimento através da experiência sensorial – é justamente o “viver para aprender”. E digo isso porque ser pai ou mãe não se aprende numa sala de aula, é uma questão de prática.
Atualmente, sintomas de depressão, ansiedade e dependência acabam despertando cada vez mais cedo nos jovens. É errado generalizar, mas atribuir essas origens a um mundo que pressiona cada vez mais cedo não seria equivocado. O apelo aqui não é pela criação de uma bolha ao redor das crianças mas, sim, por uma espécie de invólucro no lar que os proteja do bullying, dos problemas alheios e afins para eles poderem, enfim, atingir o seu potencial pleno na fase adulta.
O caráter é uma equação que tem o lar como uma importante raiz
Como alguém que vivencia a educação diariamente, observo alguns sintomas constantes no comportamento das crianças: não raro, ocorre o que definiria como uma “alienação progressiva”: os pequenos assimilam as frustrações e dores dos adultos, colocando-se num papel de agonia que não lhes cabe e esse fator influencia diretamente na sua autoestima, desenvolvimento cognitivo e aspirações. Resumidamente, os pais criam em casa um ambiente condicionado por sentimentos negativos que assolam a mente dos filhos.
Mudar isso é possível? Como dito acima, o empirismo é o aprendizado através da vivência. Desde o início do século 21, a sociedade tem se moldado de uma forma cada vez mais conectada, que traz para perto as boas e más influências graças à globalização. Neste contexto, as redes sociais desempenham um papel de egocentrismo quase irrestrito: muitos comparam uma vida à outra, como o velho provérbio “a grama do vizinho é sempre mais verde”. O cenário de ilusão gera frustração, uma sensação falsa de que o outro é mais feliz. É um exemplo isolado, mas cabe aqui: nos moldar e saber separar o que é real do que é criado pela nossa mente é essencial para sermos melhores.
Grandes educadores sempre preconizaram: “os pais precisam buscar soluções mais eficazes do que simplesmente achar que, por frequentar uma boa escola, o filho estará aprendendo”. Como bem se sabe, isto não é verdade: o dia a dia é tão – ou até mais – importante que a educação escolar, cujos benefícios são o de educar matemática, português, inglês. O caráter, como já foi dito por tantos outros profissionais, é uma equação que tem o lar como uma importante raiz. Nosso filho é educado para o mundo e não para nós mesmos. É esta a mentalidade que pais devem ter.
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- Qual é a parte da família na melhoria da educação? (artigo de Márcia Teixeira Sebastiani, publicado em 18 de setembro de 2018)
- Educação é outra história (artigo de Fausto Zamboni, publicado em 3 de agosto de 2018)
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Assim, pais ou responsáveis podem ter uma visão neutra de si mesmos, um autoconhecimento essencial para criar uma criança. Afinal, os jovens são como uma “esponja” em seu período de desenvolvimento: absorvem tudo, bom ou mal. Que sejamos sempre a equação positiva, em um mundo que cada vez mais exige pessoas que entendam os conceitos básicos de cidadania, respeito, igualdade e vida em sociedade.
Esther Cristina Pereira é presidente do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe-PR) e diretora da Escola Atuação.