Os políticos se dividem entre os que fazem contas e os que fazem de conta. O futuro está com os primeiros. Mas, se querem ser democratas, precisam convencer o povo a acreditar na aritmética e na exatidão de seus números.
Poucos fatos demonstram melhor o fracasso da classe política brasileira do que a dificuldade em levar adiante a reforma da Previdência com apoio da sociedade. Não fazer a reforma é irresponsabilidade fiscal comprometendo o futuro; fazer a reforma sem a compreensão da população é a falência política comprometendo a democracia.
Estes fracassos têm origem na atual falta de legitimidade dos políticos, seja pelos privilégios que mantemos, pelo isolamento em relação aos sentimentos da população, pela corrupção, por sucessivos estelionatos eleitorais, sobretudo pela perda na capacidade de refletir com lógica e construir entendimento.
Desapareceu a política de combinar ideias e sonhos com as equações dos recursos disponíveis. Alguns grupos se unem na defesa de ilusões sem respeito aos limites fiscais; outros optam pela frieza das equações sem respeito à opinião da população.
Não está havendo diálogo que permita uma convergência entre os desejos e os recursos disponíveis
Desapareceu o diálogo entre os grupos: o sectarismo político e a voracidade das corporações não deixam a política formular alternativas que permitam construir o futuro justo e sustentável com o apoio do povo.
A reforma da Previdência é um exemplo. Não está havendo diálogo que permita uma convergência entre os desejos e os recursos disponíveis: alguns ajustam os dados para fazer possível vender ilusões; outros se apegam aos números sem convencer a população de que a realidade exige reforma; outros não aceitam perder vantagens; grupos que se consideram de esquerda se transformam em conservadores ao defender privilégios.
Até mesmo os que não perdem com a reforma ou estão protegidos pelas regras de transição, e os jovens que terão a previdência assegurada graças à sustentabilidade adquirida estão contra a reforma. A culpa é dos políticos preocupados apenas em garantir a base de apoio parlamentar e sem competência para convencer a população.
Sem respeitar as finanças, estamos irresponsavelmente vendendo ilusões e provocando a falência financeira da Previdência; sem o convencimento, estamos abrindo mão da democracia. Sem as reformas que o momento e o futuro exigem, a sociedade caminha para uma catástrofe sobre a geração de amanhã; mas, sem a compreensão da população de hoje, estamos provocando uma falência política. Porque, se aprovada sem entendimento, a reforma fracassará do ponto de vista democrático, mesmo que venha a equilibrar as finanças.
A política responsável e competente deve compatibilizar os propósitos sociais com os recursos disponíveis, olhando os interesses das futuras gerações e atraindo o apoio do eleitor de hoje, mesmo quando sacrificados. Sem a reforma necessária ou com a reforma sem convencimento, a população vai sofrer porque os políticos de hoje não estivemos à altura do momento, fomos incapazes de casar ideias com equação, responsabilidade com liderança.
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