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O Brasil conta com um sólido sistema universitário público federal e estadual que, somado às instituições comunitárias, responde por uma das pós-graduações mais bem sucedidas do planeta. São formados, anualmente, em torno de 40 mil mestres e 12 mil doutores, além da publicação de mais de 16 mil artigos indexados. Com isto o Brasil ocupa o 15.º lugar no ranking das nações que produzem ciência. Por outro lado, embora um sistema de pesquisa, sólido e bem estruturado, seja indispensável para o desenvolvimento do país, ele, de forma isolada, não consegue responder pela construção de um processo que leve a um desenvolvimento sustentável.

É imprescindível que o conhecimento produzido na academia, ou ao menos parte dele, seja utilizado na geração de novos produtos ou agregando-lhes valor tecnológico. Quanto maior o nível tecnológico agregado a um produto, maior é a escala de conhecimentos produzidos, com maior nível de competitividade e preço, com maior geração de riqueza, com maior geração de empregos nos diversos patamares da escala de produção do mesmo. É o uso criativo do conhecimento produzido na academia que gera os novos produtos, a tecnologia. Com a agregação de valor tem-se a inovação tecnológica.

Ocorre, porém, que o processo de inovação dificilmente acontece no âmbito universitário. É no âmbito empresarial que o conhecimento gerado na universidade deve ser transformado em produto ou em valor agregado. É forçoso reconhecer que o Brasil ainda não aprendeu a transformar ciência em riqueza. No que tange à participação nas patentes registradas somos inexpressivos. Enquanto a Coréia do Sul, com uma produção científica muito similar à brasileira, teve 4.428 patentes em 2004, o Brasil atingiu a marca de 106. No período de 1997/2001 a Petrobrás registrava 55 patentes, já a Samsung Electronics Co. atingia o patamar de 6.019. Um exemplo dessa situação é o seguinte: descobrimos o princípio ativo que inibe determinada bactéria, mas não temos competência para produzir o medicamento correspondente, por que falta a integração da universidade com a empresa. Este fármaco será produzido fora do Brasil, apoiado em nossas publicações, em nossas descobertas. É preciso dizer que o país pagará um pesado ônus de direito de uso do produto final.

Várias são as razões para explicar o nosso atraso nesse campo. Do lado empresarial ocorreu um processo de industrialização que nunca teve ênfase na inovação, além de planos empresariais a curto-prazo, falta de estratégia nacional e ausência de cultura de inovação empresarial. Do lado da universidade, há uma cultura interna de que a função da universidade é a pesquisa básica, sem relação com o setor produtivo.

Superar essas barreiras significa superar o atraso brasileiro em termos de avanço tecnológico. Somente assim saberemos transformar ciência em riqueza. Exemplos da competência brasileira na criação de tecnologia não faltam. Basta ver o sucesso das pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, uma das grandes responsáveis pelo nosso agronegócio; da Coope da UFRJ, com a tecnologia da exploração de petróleo em águas profundas; da Embraer e da Fiocruz em pesquisas na área de biotecnologia.

Não há dúvida de que o futuro pertencerá a quem for capaz de juntar a fronteira do conhecimento com a indústria. Só assim é que se estruturam as condições necessárias ao desenvolvimento e soberania da nação.

Waldemiro Gremski é professor titular e diretor de Pesquisa e Pós-Graduação da PUCPR.

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