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Reprovação, autoritarismo e exclusão

O horário eleitoral gratuito colocou no ar, mais uma vez, a discussão de uma importante questão do sistema de aprovação para os alunos do ensino fundamental: a promoção automática. Entretanto, os interesses eleitoreiros passam, como sempre, ao largo da essência da questão, utilizando, de forma demagógica, um ponto bastante importante da reforma educacional. Acredito que é possível criticar, mas sem esquecer os aspectos positivos que estão inseridos nessa sistemática. Nada como reler as ideias do grande pedagogo brasileiro Paulo Freire, que foi secretário da Educação no município de São Paulo. Para ele, o sistema de seleção e avaliação é cruel e leva à exclusão social; além disso, reforça o caráter autoritário do professor como detentor do conhecimento. Ao perder o poder de reprovar alunos e excluí-los da escola, o corpo docente é uma das primeiras vozes a engrossar a crítica ao modelo.

Não se pode esquecer de que algumas crianças têm dificuldade para aprender por diversas razões, como doenças, subnutrição, dislexia, hiperatividade etc., e que essas dificuldades sempre existiram e não são um problema exclusivo do nosso país ou estado. Ocorre que, no passado, essas crianças eram simplesmente excluídas da escola, perdendo o contato com as demais, com o professor e, além de tudo, perdendo a merenda, tão importante para a população carente. Essa exclusão leva, sem sombra de dúvida, a um sentimento de humilhação, afetando a autoestima da criança, tornando-a uma presa fácil para a marginalidade social.

Deixa-me pasmo que figuras com abertura intelectual venham a público proclamar aos quatro ventos que seu primeiro ato no governo será acabar com a aprovação automática. "Só passa quem tiver condições." Parece que a eleição levou inclusive pessoas com sensibilidade social a enveredar pelo caminho fácil da crítica sem fundamento e para a demagogia barata. Aperfeiçoar o modelo, criando condições para que haja um acompanhamento eficiente dos alunos com problemas de aprendizagem, possibilitando a sua readaptação, é o mínimo que se espera de uma política de bom senso. Esperar isso de políticos conservadores e com viés autoritário seria inusitado, mas, de partidos comprometidos com a inclusão social, seria, no mínimo, óbvio.

Acredito que o tema mereceria uma reflexão mais profunda, pois nem todos os indivíduos apresentam a mesma disponibilidade para o aprendizado a partir dos sete anos. Este limite é estatístico e existem margens de erro em função da diversidade humana. Cada indivíduo tem o seu tempo, o que não significa que uma criança que aos dez anos ainda não conseguiu aprender a escrever tenha, necessariamente, um problema cognitivo ou que o professor seja incompetente. É preciso avaliar cada caso antes da decisão drástica de excluir a criança do ambiente escolar, tornando-a socialmente fracassada. Investir mais na escola pública para o acompanhamento de crianças com dificuldades cognitivas seria a solução mais racional e não o autoritarismo da reprovação.

Renato Ladeia é professor de Administração do Centro Universitário da FEI.

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