Apesar de todas as dificuldades enfrentadas em 2022, como as pressões sobre a importação de fertilizantes, devido à invasão da Rússia à Ucrânia, efeitos da pandemia, elevação de preços de insumos e o cenário político tenso no processo eleitoral brasileiro, o setor rural cumpriu sua missão perante o país e o mundo. Colheu safra recorde de grãos, que deverá ser superada na próxima temporada, e garantiu a oferta de proteína animal, commodities agrícolas e alimentos.
Em outra frente relevante, seguiu contribuindo para a inevitável transição dos combustíveis fósseis aos advindos de fontes limpas e renováveis. Exemplo disso encontra-se em dados do Escritório de Comércio Agrícola do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em São Paulo: a estimativa é de que o Brasil tenha fechado 2022 com a produção de 31,66 bilhões de litros de etanol. O volume representa aumento de 5,6% em relação aos 29,98 bilhões de litros registrados em 2021. Tais números também ganham importância no aspecto econômico, considerando as oscilações nos preços do petróleo e seus derivados, um dos efeitos colaterais do conflito no Leste da Europa.
As mulheres e homens do campo almejam juros menores, equilíbrio entre investimentos sociais e responsabilidade fiscal, um Plano Safra 2023 condizente com a relevância do setor.
Ademais, o campo continua decisivo para o desempenho do comércio exterior brasileiro. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no primeiro semestre de 2022, as exportações do agronegócio somaram US$ 79,32 bilhões, valor recorde para o período, significando crescimento de 29,4% na comparação interanual. Suas importações foram de US$ 8,14 bilhões. O setor representou quase a metade de todas as vendas externas do país e produziu superávit de US$ 71,18 bilhões em sua balança comercial.
As estatísticas não expressam apenas os avanços tecnológicos, aumento da produtividade, caráter sustentável da atividade, know how e a qualidade dos produtores rurais brasileiros. Acredito que um dos fatores mais importantes para a conquista desses resultados seja sua resiliência e capacidade de enfrentar adversidades.
Esta é uma das leituras que se pode inferir no Índice de Confiança do Agronegócio (IC Agro), elaborado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), que fechou o terceiro trimestre de 2022 em 116,3 pontos. Isso significa crescimento de 6,1 pontos sobre o levantamento anterior e de 5,4 pontos sobre o primeiro trimestre de 2022. Foi o melhor resultado do ano. O índice de todos os segmentos pesquisados – agricultores, pecuaristas e indústrias situadas “antes e depois da porteira” – manteve-se acima de 100 pontos, na faixa considerada otimista pela metodologia do estudo. Apenas no item “depois da porteira” houve um ligeiro recuo.
Penso que essa queda, embora pequena, deva merecer a máxima atenção dos novos governadores, deputados estaduais e federais, senadores e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As mulheres e homens do campo almejam juros menores, equilíbrio entre investimentos sociais e responsabilidade fiscal, um Plano Safra 2023 condizente com a relevância do setor para a economia nacional, garantia dos direitos à propriedade e movimentação das safras e continuidade das reformas modernizadoras, em especial a tributária e a previdenciária.
Em quaisquer cenários, jamais faltarão resiliência e determinação para enfrentar desafios àqueles que convertem a terra em empregos, alimentos, insumos, commodities, investimentos e crescente superávit comercial. Porém, acredito que o cumprimento da agenda acima citada será importante para aumentar ainda mais o índice de confiança dos produtores rurais “antes da porteira” e reverter o pequeno recuo “depois da porteira”. E isso significará muito para nosso país.
João Guilherme Sabino Ometto é engenheiro, empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).