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A resistência ucraniana e o apoio do Ocidente

Bandeiras da Ucrânia em cemitério em Kharkiv, no nordeste do país, onde foram enterrados soldados mortos na guerra com a Rússia (Foto: EFE/EPA/PAVLO PAKHOMENKO)

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A resiliência que vimos no último ano tem sido a maior aliada dos ucranianos. Mais do que tanques, aviões ou artilharia, tem sido admirável enxergar a força de um povo que decidiu não se entregar ou sucumbir diante da pressão, bombardeios e devastação causados pela guerra. A ordem é resistir e lutar fazendo com que o país siga livre, forte e independente para escolher seus rumos e decidir seu futuro.

Jamais se imaginou tamanha capacidade de resistência do governo de Kiev. Ao contrário disso, os cálculos eram simplesmente sobre quanto tempo demoraria até que as forças de Putin tomassem por completo o país. O revés sofrido pelo Kremlin é uma forma de humilhação que Moscou jamais ousou prever e neste ponto reside um dos principais erros dos russos, que acabou mudando os cálculos da guerra e invertendo a lógica.

Resta ao ocidente se preparar para um embate duradouro. Depois de um ano, contudo, o cenário é outro e a Rússia está muito mais distante do seu objetivo.

Em primeiro plano, o Kremlin em nenhuma circunstância imaginou o tamanho da reação organizada pelo ocidente. Com apoio da União Europeia e Estados Unidos em uma frente e da OTAN no plano militar, promovendo ajuda bélica ao governo ucraniano, a contraofensiva seguiu pelo plano financeiro, atingindo oligarcas russos e a economia do país, forçando Putin a buscar caminhos para evitar o desencadeamento de uma crise sem precedentes.

Fato é que a resistência ucraniana encontrou amparo e respaldo em diversas frentes, lutando uma guerra que também está além das trincheiras, mas também no mundo financeiro e econômico, além das movimentações nas esferas política, social e judicial, que impedem o presidente russo de se movimentar fora dos países de sua esfera de controle. Uma guerra, portanto, sem sinais de término rápido e que deve se prolongar por muito mais tempo do que o esperado.

A força da reação de salvamento da Ucrânia também enviou sinais importantes no plano político internacional, em especial para a China, que já colocava na proa a antiga ideia de avançar sobre Taiwan, o único resquício de uma China democrática, hoje no exílio. O projeto, ao que tudo indica, foi temporariamente arquivado, sob o risco de colocar em xeque a economia chinesa diante de uma provável resposta dura do ocidente.

Voltando à Ucrânia, Putin acreditava que teria uma vitória rápida e em pouco tempo colocaria a Europa de joelhos diante da dependência energética que passa pelos dutos russos, em especial pelo território ucraniano. Este era o plano inicial. Esta vitória fomentaria o avanço da China sobre Taiwan, colocando a União Europeia de joelhos e os Estados Unidos sob pressão. Se Trump tivesse vencido a eleição em Washington, o jogo estaria tomando uma forma cada vez mais próxima dos objetivos de Moscou.

Ao entender este jogo geopolítico, a opção do ocidente em manter Kiev viva e uma Ucrânia independente se tornou fundamental para a estabilidade internacional. Agora, Zelensky está muito mais próximo do objetivo de colocar seu país dentro da União Europeia e tornar-se sócio da união militar mais poderosa do planeta, a OTAN. Putin subestimou a capacidade de articulação e resiliência dos ucranianos e a leitura do jogo pelos europeus e americanos. Ao inundar as contas de antigos líderes políticos europeus com recursos, tornar a Europa dependente de seu gás e interferir por meio de fraudes digitais em processos eleitorais, o Kremlin acreditou que havia preparado o cenário perfeito. Erraram o cálculo.

Resta ao ocidente se preparar para um embate duradouro. Depois de um ano, contudo, o cenário é outro e a Rússia está muito mais distante do seu objetivo do que no início da guerra e esta é uma ótima notícia para a estabilidade internacional.

Márcio Coimbra, cientista político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007), ex-diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal, é presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica e coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília.

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