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Resoluções de ano novo

Bandeira do Brasil: país relembrou nesta semana a proclamação da República. (Foto: André Rodrigues/Arquivo/Gazeta do Povo)

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Janeiro, o primeiro mês do ano, tem seu nome em homenagem ao deus Janus. O deus romano de duas faces, voltadas para lados opostos. Era para este deus pagão – o deus das portas, dos inícios e fins, das transições, das dualidades e das passagens – que os Césares e seu império faziam promessas e comprometiam-se com resoluções de fim de ano.

A variável mística ou religiosa dos diferentes rituais de passagem é um reconhecimento por parte da humanidade, em todos os tempos, da sua fragilidade diante do imponderável. E uma esperança de transação: reconheço erros, faço a contrição, comprometo-me com o que imagino ou me dizem ser o correto, e peço bons ventos oriundos do que não entendo. A bênção dos deuses para o ano que vai nascer.

Nestes dias de mudança de um 2021 de dificuldades para um 2022 de esperanças (não é sempre assim?), talvez pudéssemos fazer um ritual um pouco diferente do que temos feito até os dias de hoje, aqui nesta Terra Brasilis. Pelo menos na área pública. Na área que seria de todos nós.

O capítulo dos erros e equívocos do ano que sai não é difícil de enunciar, nem faltarão exemplos: diante de uma pandemia trágica, apontamos dedos em demasia, perdemos a humildade e deixamos soltos espíritos autoritários; diante de um ativismo judicial perverso, não gritamos ou cobramos o suficiente; diante de um discurso em que a vítima da violência é apontada como culpada, demos de ombros; nos conformamos com a pobreza; assistimos calados à injusta distribuição de recursos públicos, sempre para os mesmos; vimos como meros espectadores a insegurança jurídica crescer, a censura mostrar seus dentes pavorosos e o assalto aos cofres públicos ser normalizado, e fomos para casa quando as imposições socioculturais passaram de discursos de guetos para os altos salões de ministros togados e redações medíocres. O ano que passou, o ano de 2021, mostrou um Brasil de poderes constitucionais adaptados a vontades pessoais e políticas de ocasião. O ano passou; as nuvens negras, ainda não.

O capítulo da contrição é mais sofisticado. Aceitamos a relação dos erros, mais por seu enunciado do que pelo medo à punição, trocamos o sujeito das frases e identificamos os supostos responsáveis: eles, os outros; eles, os políticos. Nós, nunca.

Reconhecidas as mazelas e identificados os responsáveis, fazemos cara de sérios, brindamos com a família e com os amigos e assumimos compromissos genéricos para o tempo que virá. Os deuses haverão de entender.

O tempo passou, Janus é uma referência histórico-cultural, o império é outro e em 2022 tem eleições gerais no Brasil.

O novo império, guardadas as controvérsias, não costuma fazer promessas para nenhum deus, em nenhuma transição. Entretanto, faz resoluções de fim de ano e pesquisas e estatísticas – sobre qualquer coisa, com um fervor quase religioso. Assim, em meio a uma torrente de informações sobre resoluções de fim de ano nos Estados Unidos da América – 80% delas são abandonadas e o dia 17 de janeiro é considerado o dia da desistência –, encontramos um dado interessante: as resoluções tomadas com o rigor da formalidade e devidamente acompanhadas ao longo do ano alcançam 22% a mais de êxito que as genericamente enunciadas.

Meus candidatos deverão estar em partidos que não compactuem com a forma paternalista, populista e patrimonialista de fazer política.

Desta forma, na perspectiva de que possamos utilizar o evento das eleições gerais do ano que começa para o benefício do Brasil, tomo a liberdade de fazer duas propostas: a primeira é oferecer para você, leitor e eleitor, uma pequena lista de resoluções de fim de ano, a título de sugestão; a segunda, mudando o sujeito para nós, é que a transformemos em um instrumento de cidadania. Que a formalizemos, de todas as maneiras possíveis. Vejamos:

Este ano, vou levar o processo eleitoral a sério. De verdade. Vou escolher os candidatos com base em suas propostas efetivas e não contraditórias. Saberei suas plataformas eleitorais, checarei seu passado e não os esquecerei.

Neste ano eleitoral, os candidatos por mim escolhidos deverão defender de maneira explícita, clara e inequívoca os ideias de liberdade, vida digna para todos, da busca da prosperidade e da construção dos meios para alcançá-los.

Nas eleições deste ano, meus candidatos deverão trabalhar em defesa da emancipação da sociedade brasileira, por meio de políticas que conciliem democracia com economia de mercado – liberalismo com capitalismo democrático.

Meus candidatos deverão estar em partidos que não compactuem com a forma paternalista, populista e patrimonialista de fazer política; que defendam as liberdades individuais, o livre mercado e a eficiência na gestão do Estado. Devem, neste último item, ser a favor de privatizações. Todas.

Finalmente, meus candidatos devem ter compromisso com a agenda capitalista no Brasil. Explicitamente.

Estas resoluções não esgotam as possibilidades de seleção de candidatos, nem farão todos contentes. Farão um Brasil melhor.

Mateus Bandeira, conselheiro de administração e consultor de empresas, foi CEO da Falconi, presidente do Banrisul e secretário de Planejamento do Rio Grande do Sul.

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