O segundo mandato da presidente Dilma começou com uma equipe econômica de mais alta credibilidade. O ministro da Fazenda escolhido não fazia parte das apostas mais otimistas do mercado financeiro às vésperas do segundo turno, sendo inclusive um nome frequentemente citado para ocupar um cargo relevante caso a oposição fosse vencedora. Joaquim Levy era um dos poucos nomes capazes de resgatar a esperança dos investidores e do empresariado em um governo de continuidade. Trazia consigo uma história de ajuste fiscal de sucesso, além de ser um economista de vertente completamente divergente dos formuladores da “nova matriz econômica” do mandato anterior. Com ele, faríamos um ou dois anos, no máximo, de ajustes e sairíamos do crescimento zero.

CARREGANDO :)

O fator preponderante para a morte prematura do plano Levy é a crise política que vivemos

Publicidade

Infelizmente a esperança nesse enredo durou pouco. A confiança na economia não voltou, as projeções de crescimento pioraram bastante e o consenso de que tínhamos grande probabilidade de perder o grau de investimento ano que vem já se concretizou ainda neste ano. O que mudou neste curto intervalo de tempo? Uma explicação é de que a atividade econômica está muito mais fraca do que qualquer economista podia prever ao fim do ano passado, ao mesmo tempo em que a situação fiscal do fim de 2014 revelou-se muito pior que a indicada pelos dados da época.

De fato, o ajuste fiscal não está conseguindo trazer números menos constrangedores pelos motivos citados. No entanto, esses fatores não são, de forma alguma, responsáveis pelo desânimo dos empresários, nem pela desconfiança do mercado financeiro. O fator preponderante para a morte prematura do plano Levy é a crise política que vivemos. É o fato de termos o Poder Executivo completamente desconectado do Poder Legislativo e de sua base aliada em um país onde qualquer medida relevante precisa ser aprovada tanto pela Câmara dos Deputados quanto pelo Senado.

O agravamento da crise política e o desenrolar da Operação Lava Jato trouxeram a percepção de que a estratégia econômica capitaneada por Levy esteja já mudando de rumo, ou de que isso ocorrerá em breve. A medida detonadora dessa percepção foi a flexibilização das metas de superávit primário desse ano, de 2016 e de 2017. Esperávamos metas mais condizentes com a realidade do PIB, mas fomos surpreendidos com o tamanho do ajuste e com o seu alongamento. Levy vinha defendendo explicitamente um ajuste mais forte no curto prazo, capaz de trazer de volta a confiança em oposição a um ajuste gradual e prolongado, incapaz de acordar o espírito animal. Os sinais eram de que o governo iria ajustar a meta de superávit primário desse ano, de 1,2% do PIB para algo perto de 0,5%. A nova meta ficou em 0,15%, com possibilidade de abatimento, recurso que até o momento parecia ser reprovado pela atual equipe da Fazenda. O governo apresentou o orçamento de 2016 prevendo déficit primário. A postergação da meta de 2% para 2018 foi um sinal de que o governo desistiu da luta com o Congresso, colocando a relação dívida/PIB em trajetória perigosa.

Como se não bastasse o adiamento do ajuste fiscal, o governo voltou a usar os bancos públicos contra a recessão. Essa prática altamente criticada no discurso de posse de Levy tem como objetivo anunciado ajudar as empresas a “respirar” e evitar demissões. Volta-se a utilizar a política parafiscal para impedir que o ajuste dos salários e dos preços relativos tenha o curso necessário para desinflacionar a economia. Para os que acham que já estamos no fundo do poço, recomenda-se estudar o período chamado de “década perdida” da história brasileira.

Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, é especialista do Instituto Millenium.