| Foto: Marcelo Andrade/Arquivo Gazeta do Povo

Indecisão. Política. Brasil. Campanhas. Liberdade. Prisão. Só com essas cinco palavras, eu tenho certeza de que já foi montado um cenário em sua mente, repleto de imagens e significados. São os “signos linguísticos”. Elementos da linguagem que carregam conceitos, os quais foram atribuídos aos signos a partir das nossas vivências, aprendizagens e relações.

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Isso é apenas para demonstrar que a formação do nosso pensamento está diretamente conectada à linguagem. Só com aquelas cinco primeiras palavras, você já pode até estar com uma opinião – positiva ou não – formada sobre mim.

Estando o Brasil às portas do início das campanhas eleitorais – o período de campanha vai de 16 de agosto a 6 de outubro –, vale nos questionarmos se, de fato, estamos tendo liberdade para pensar ou se nosso pensamento está sendo cerceado por clichês limitantes.

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Em um país cujo oligopólio das comunicações, composto por apenas cinco grupos, controla 50% dos veículos de maior audiência nacional, como afirma a pesquisa Monitoramento da Propriedade da Mídia (2017), financiada pelo governo da Alemanha e realizada pelas organizações Intervozes e Repórteres Sem Fronteiras, é fundamental ativar o pensamento crítico e, assim, avaliar o conteúdo que tem chegado até nós e que signos estão sendo formados em nossas mentes. São esses signos que contribuem para a nossa tomada de escolhas e atitudes.

É fundamental ativar o pensamento crítico e, assim, avaliar o conteúdo que tem chegado até nós

Alguém que foi exposto à ideia de que “lugar de mulher não é na política” tem em sua mente o signo “mulher” associado ao significado de que uma pessoa desse gênero não pode ocupar um cargo político ou não tem condições para bem desempenhá-lo, por exemplo. Logo, age de maneira contrária à candidatura de mulheres ou, por vezes, expressa pensamentos misóginos.

O pensamento se forma a partir de tudo aquilo a que somos expostos. Por isso, refletir sobre a liberdade de pensamento inclui também investigar o que antecede o pensar e o que está em torno desse ato – inclusive, revendo o nosso posicionamento como cidadãs e cidadãos para garantir a liberdade de pensamento.

A liberdade de pensamento é um direito fundamental previsto no artigo 5.º da Constituição Brasileira, assim como no artigo 18 da Declaração Universal de Direitos Humanos. Sobre esse direito, afirma-se que todas as pessoas têm a possibilidade de ter suas próprias ideias e mudá-las a qualquer tempo – o que é um processo íntimo que não pode ser restringido por outras pessoas, nem pela mídia e nem pelo Estado.

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Nossas convicções: O valor da comunicação

Nossas convicções: O poder da razão e do diálogo

De acordo com a pesquisa acima citada, “o pluralismo da mídia é uma questão chave em sociedades democráticas”. Uma mídia plural é aquela que apresenta à esfera pública diversos pontos de vista e por diferentes fontes. Ou seja: a oligarquia da comunicação que vivemos hoje compromete a efetiva liberdade de pensamento e a democracia do país.

Dificilmente os veículos serão imparciais, porque, por trás das empresas de comunicação, estão pessoas como eu e você, com interesses e ideias também. Justamente pela maculação da imparcialidade, é imprescindível que nós, no exercício de nossa cidadania, busquemos diversificar as fontes de informação e questionar as bases do que tem se formado em nossas mentes, para, de fato, vivermos uma liberdade de pensamento.

A notícia de esperança é que os signos, por mais enraizados na discriminação que eles estejam, podem ser ressignificados. Eu tenho um amigo com quem divido um apreço por esta palavra: ressignificação. Em 2018, ainda há quem pense que lugar de mulher não é na Assembleia Legislativa, na Câmara, no Senado ou no Palácio do Planalto. Mas agora, diante do crescimento das discussões de gênero, do mito caído de que mulheres são fracas e sem inteligência, ainda se continuará pensando da mesma forma e agindo-se com ódio? A potência da liberdade de pensamento está em se permitir ressignificar. Vamos nessa?

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Michele Bravos é diretora-executiva do Instituto Aurora, mestre em Direitos Humanos e Políticas Públicas pela PUCPR e facilitadora de práticas da Justiça Restaurativa.