Desde o final do ano passado as restrições de caminhões em determinadas vias começaram a pipocar pelo Brasil. Em São Paulo, inclusive, essa ação fez com que motoristas que transportam combustível entrassem em greve, causando até a falta de combustíveis em alguns locais da cidade.

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Em Curitiba, depois de muita negociação com a prefeitura da cidade, conseguiu-se flexibilizar as restrições de caminhões na Linha Verde. Com isso, a restrição na via acontece apenas entre 7 e 10 horas da manhã e das 17 às 20 horas. Dessa forma, o fluxo da Linha Verde nos horários de pico fica melhor, sem prejudicar o transporte de carga.

Mas, ao que tudo indica, os transportadores não são os principais responsáveis pelos congestionamentos na via. Trafegar pela Linha Verde, no horário de pico, pode não ser a melhor escolha para os motoristas que seguem do Tarumã para o Jardim Botânico e também para quem vai do bairro Fanny ao Prado Velho, roteiro onde são encontrados dois gargalos de lentidão.

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Ora, se não são dos caminhões, de quem é a culpa? Especialistas são categóricos ao afirmar que, em tese, a retirada de caminhões nos horários de pico abriria mais espaço nas vias, mas ressaltam que em locais com altíssima demanda de veículos de passeio, o resultado é que as avenidas continuarão congestionadas e não haverá ganho significativo de velocidade. Outro fator apontado pelo consultor em Engenharia de Tráfego e Transporte Horácio Figueira é que as restrições de caminhões podem, inclusive, piorar o trânsito, uma vez que, com a retirada de grandes veículos de carga, como as carretas, para abastecer as cidades as transportadoras tendem a substituir caminhões por outros veículos de carga menores, que só aumentam o trânsito e a poluição.

Além disso, é preciso lembrar que as sugestões de rotas alternativas acabam fazendo com que essas vias sofram com o excesso de veículos pesados, pois o trânsito nesses locais acaba ficando mais intenso. Isso sem mencionar a falta de fiscalização nas vias com restrições, que é imprescindível. O resultado disso é que apenas transferimos o problema para outro local, mas não resolvemos de fato a questão.

Um país africano nos mostra a solução. Moçambique, que teve uma ideia inovadora para reduzir o trânsito das cidades: o governo local está estudando uma alteração nos horários de funcionamento de vários setores de atividade da própria economia, de forma a descongestionar o trânsito nas principais cidades do país. O principal objetivo é fixar horários diferenciados em áreas de trabalho cujos horários podem começar e terminar mais tarde. Dessa forma, as autoridades locais acreditam que possam aliviar o trânsito nas cidades. Essa é uma alternativa viável, quando bem-estruturada, para combater os congestionamentos nas cidades.

A resposta para os problemas de intenso fluxo nas grandes cidades brasileiras não está apenas na restrição. Nossos governantes precisam refletir mais sobre o exemplo citado e investir em mobilidade urbana. Só assim resolveremos de forma coerente o problema de grande tráfego nas cidades brasileiras.

Gilberto Antonio Cantú é presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Paraná (Setcepar).

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