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As altas mais expressivas na produção industrial em 2010 ocorreram em bens de capital, intermediários e de consumo duráveis e na construção civil

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve fechar o exercício de 2010 com acréscimo de 7,6%, conforme previsões do mercado, o maior desde 1986, ocasião do surto de consumo alavancado pela restauração do poder aquisitivo da população mais pobre, propiciada pela estabilização monetária e a elevação da massa real de salários, acoplados ao Plano Cruzado.

A raiz explicativa do pronunciado desempenho atual está ramificada na evolução dos volumes de rendimentos provenientes do fator trabalho, de crédito e de gastos públicos (com forte apelo eleitoral), e ainda nas renúncias fiscais ancoradas no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Igualmente relevante foi a manutenção, ou até o alargamento, das políticas públicas, particularmente aquelas ligadas à previdência social, à valorização do salário mínimo e ao programa Bolsa Família.

Mais precisamente, houve a continuidade, em 2010, da conjugação, começada em 2009, entre o avanço da ação dos bancos públicos (Ban­­­­co do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco Nacional de De­­­­­sen­­­­­­­volvimento Econômico e Social), em contraposição ao encolhimen­­­to das entidades financeiras privadas e do financiamen­­­­­­to externo, e os incentivos fiscais do IPI, para a desova de estoques de bens duráveis (automóveis, eletrodomésticos de linha branca e mó­­­­­veis) e materiais de construção. Isso ensejou vigorosa restauração da cur­­­­­va de emprego e de salários reais, o que incitou as decisões de con­­­­sumo das famílias e as escolhas estratégicas de investimentos das empre­­­sas.

Apesar de o custo da mão de obra industrial no Brasil ser o 16.º menor em um painel de 54 países pesquisados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), US$ 5,96 por hora, ainda supera em larga escala as despesas médias com remuneração do fator trabalho na Rússia (US$ 2,93 por hora), México (US$ 2,92 por hora), China (US$ 1,38 por hora) e Índia (US$ 0,58 por hora).

Recorde-se que, no Brasil, a gestão econômica recorreu, em simultâneo, a instrumentos anticíclicos monetários e fiscais, ao contrário do resto mundo que, só empregou expedientes fiscais depois da exaustão dos ingredientes monetários, quando os juros chegaram próximos a zero.

Os estímulos tributários vigoraram entre dezembro de 2008 e março de 2010 para veículos (incluindo motocicletas a partir do segundo trimestre de 2009); abril de 2009 e março de 2010 para os bens de linha branca; e dezembro de 2009 e março de 2010 para os itens do mobiliário. Para os insumos da indústria da construção, a renúncia do IPI foi criada em abril de 2009, prorrogada até dezembro de 2010 e novamente estendida até o final de 2011, em face do reconhecimento oficial quanto ao médio tempo de maturação e ao elevado potencial de geração de emprego não qualificado do setor.

As altas mais expressivas na produção industrial em 2010 ocorreram em bens de capital, intermediários e de consumo duráveis e na construção civil. No caso de bens de capital e intermediários, houve incremento quase sincronizado, em virtude do empuxe da demanda doméstica e das importações, favorecidas pela circunstância de câmbio apreciado, ao preço da queda dos superávits comerciais e da agudização dos déficits em transações correntes do país. Cálculos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) demonstram que 55% das empresas que atuam no Brasil já se abastecem no exterior.

Ainda nesse bloco, cumpre acrescentar o comportamento positivo das indústrias extrativas e de minerais não metálicos, em virtude da ampliação do comércio (preços e quantidades) externo, determinada pela aceleração do mercado chinês, e da arrancada da cadeia de negócios da construção civil, associada aos estímulos fiscais, à revitalização dos mecanismos de financiamento habitacional e à intensificação dos gastos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), especialmente para o tratamento das feridas abertas pela crise e o cumprimento dos requisitos do ciclo eleitoral.

A performance de bens duráveis de consumo, movida prioritariamente a crédito, foi puxada pelo segmento de material de transporte, principalmente veículos, metalurgia, borracha e plásticos, e materiais de escritório e de informática, beneficiados pela valorização cambial, superior a 30% desde 2002, de acordo com cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), e pelo próprio curso virtuoso do restante do sistema econômico.

Gilmar Mendes Lourenço, economista, é coordenador do Curso de Economia da FAE e autor do livro Conjuntura Econômica: Modelo de Compreensão para Executivos.

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