As amarras da política econômica são tão fortes que Dilma vence, mas nomeia o ministro de que Aécio gostaria. Quando ela disse que em campanha se faz o diabo, talvez não imaginasse que na economia tem de fazer o que não se deseja. Mas Deus fez o mundo e deixou a economia para o demônio. Era perfeitamente previsível o desequilíbrio que está acontecendo.
Em setembro de 2011, foi publicada no Senado Federal uma brochura intitulada A economia está bem, mas não vai bem, que pode ser lida no link http://bit.ly/1zJaALQ, indicando 15 problemas visíveis para quem não estava iludido com as aparências. O último mostra a euforia que dominava os dirigentes, que não quiseram ver o que aconteceria.
Nos tempos de hoje a verdadeira política progressista consiste em cuidar da economia com responsabilidade e investir na mudança da realidade social por meio da educação. O governo fez o contrário: brincou com a economia e não fez a intervenção necessária na educação.
Alguns ainda acreditam que ser de esquerda ou de direita é agir sobre a economia, mas terminam provocando os problemas que agora atravessamos e teremos dificuldades em superar, além de pagarmos um elevado preço em emprego, nível de renda e de consumo, e pela estabilidade dos programas de assistência social.
A utopia não é mais um mundo sem patrões, mas um mundo onde os filhos dos trabalhadores estudem nas mesmas escolas dos filhos dos patrões. E essa utopia tem de ser construída respeitando as regras da economia. A luta da revolução está no orçamento bem administrado, com responsabilidade fiscal e prioridades corretas do ponto de vista dos propósitos utópicos.
A presidente Dilma faz parte dos quadros de uma esquerda que não conhecia os limites ecológicos; quando o proletariado e seus sindicatos eram revolucionários e queriam mudar a estrutura social, o Estado podia fechar as fronteiras e estatizar o setor produtivo, pois a base filosófica sustentava que a revolução estava na economia. Isso mudou. Entramos em um tempo em que na economia todos os partidos ficaram iguais e responsáveis, ou erram querendo ser diferentes e ficam irresponsáveis.
A concepção do Bolsa Família é um bom e necessário programa neoliberal de assistência social, daí a simpatia por ele de economistas conservadores como o Nobel Gary Stanley Becker. A concepção do Bolsa Escola era revolucionária porque vinculava a responsabilidade com a economia, a revolução pela educação de qualidade igual para todas as classes sociais.
Se quiser fazer um governo progressista, a presidente Dilma deverá fazer um governo conservador na economia e definir metas ambiciosas para a educação de qualidade para todos, no ritmo possível para que essas metas possam ser atingidas sem afetar o equilíbrio fiscal, reorientando as prioridades, parando desperdícios e gastos supérfluos.
Cristovam Buarque, professor emérito da UnB, é senador pelo PDT-DF
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