Ética não é o mesmo que moral, apesar de muitos acharem que as duas palavras têm o mesmo sentido. Moral vem do latim e significa costume. Ética, do grego, significa morada. É uma disciplina que tem como finalidade principal o entendimento de como os seres humanos devem agir e que tipo de vida é melhor para as pessoas. É, em última instância, o estudo da moral. O estudo dos costumes.

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Para alguns, depois de Darwin a moralidade se tornou um dos grandes mistérios da ciência. A seleção natural, existente na teoria da evolução, privilegia a competição, o individualismo e a força, em vez do altruísmo presente na essência da moralidade. Contudo, os seres humanos biologicamente foram designados para cooperar entre si, mesmo que seja apenas com alguns grupos de pessoas com interesses comuns. Vendo dessa forma, a moralidade passa a ser uma adaptação biológica que favorece a sobrevivência de determinados grupos ou nações, em detrimento de outros.

O mais profundo pragmatismo reinou sozinho durante todos estes anos do governo do PT

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E o que falta na grave crise do Brasil de 2015: uma coerência moral? Infelizmente, não. Seria mais fácil aceitarmos e entendermos se fosse simples assim. Também não será o afastamento da presidente Dilma que resolverá todos os problemas do país. Mas como ousar dizer que não falta coerência moral se não temos mais uma esquerda ou direita bem definidas? Se parece não termos mais modelos políticos? Que país é este, onde um governo supostamente de esquerda toma medidas econômicas conflitantes com as promessas de campanha, ou mesmo com a doutrina do seu partido?

Mesmo assim, temos um modelo coerente de governo. E ele é moralmente bem definido. Não estava claro no início para muitos de nós. É utilitarista – ou, se preferirem, consequencialista. O mais profundo pragmatismo reinou sozinho durante todos estes anos do governo do PT. Até mesmo as melhoras substantivas que aconteceram nos primeiros anos sob a presidência de Lula – e que foram fruto de acertos econômicos de quem o precedeu e também (é preciso dizer) do seu próprio governo, bem como de uma conjuntura internacional bastante favorável – serviram de base para um projeto maior de manutenção de poder.

A moral, portanto, como adaptação biológica de um determinado grupo com interesses comuns, funcionou muito bem até então. E a moral, aqui, é a das consequências, ou seja, dos fins que justificam os meios. Qualquer meio é válido, se no fim as consequências forem boas para o partido e seus membros. O marqueteiro, neste modelo, é o rei – e a mentira, a rainha. Mas tínhamos um terceiro e um quarto poderes, o da Justiça e o da imprensa livre, que insistiram em mostrar as suas caras. E, é claro, as ruas...

Assim como a ciência evolui com a superação de paradigmas, a ética de um povo também evolui com a quebra de modelos de moralidade existentes. Na ciência, a chamada revolução científica ocorre ao custo de mudanças conceituais importantes e não sem um grande sacrifício individual e coletivo dos cientistas em superar os velhos modelos. Da mesma forma, a mudança da moralidade não ocorre sem conflitos. Vivemos agora uma batalha conceitual entre a ética consequencialista vigente e a ética das virtudes, presente nas ruas. Entre o Estado padrasto, perdulário, irresponsável e de caráter duvidoso, e os filhos virtuosos da pátria mãe gentil.

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Apenas para reflexão final de todos nós, cidadãos virtuosos: no governo utilitarista vale tudo, até colocar um professor de Ética no Ministério da Educação. Sinal dos tempos.

Cicero Urban, médico mastologista e oncologista, é professor de Bioética e Metodologia Científica na Universidade Positivo e vice-presidente do Instituto de Ciência e Fé em Curitiba.