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Rio Grande do Sul: onde está Deus na catástrofe?

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Homem a bordo de canoa durante enchente nesta sexta-feira (4), em Porto Alegre (Foto: EFE/Renan Mattos)

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Grandes desastres provam que Deus não existe, defendem os ateus. Afinal, como poderia o Criador — que, por definição, deveria ser sempre bom — permitir tal nível de crueldade? Nos últimos dias, acompanhamos a tragédia de sonhos interrompidos, lares destruídos, vidas perdidas no Rio Grande do Sul, onde vivo. Seria, então, possível conciliar essa realidade com a fé?

Um amigo montou um bote e, em um dia, resgatou mais de cem pessoas — de bebês a idosos. Anônimo de jipe, barco e jet ski vêm percorrendo ruas inundadas para salvar desconhecidos, ao passo que colocam em risco sua própria sobrevivência. Tive a experiência de ir a um centro de arrecadação: benfeitores pareciam brotar de todos os lados carregados de sacolas, enquanto uma legião de voluntários estava ali para ajudar na organização e destinação de itens essenciais. E o que dizer das correntes humanas feitas para puxar barcos e remover os ilhados?

A caridade genuína das pessoas, nestes dias de tanta dor e de tanto luto, nos revela a força superiora do bem.

Alguns têm virado a noite e feito grandes sacrifícios para amenizar o sofrimento e atender o chamado daqueles que clamam por socorro — muitas vezes, em uma verdadeira corrida contra o tempo, enquanto a água se aproxima.

O mal, de fato, é barulhento e assusta. Coisas ruins acontecem e são inexplicáveis, ao menos humanamente. Mas a caridade genuína das pessoas, nestes dias de tanta dor e de tanto luto, nos revela a força superiora do bem.

Repito a pergunta que muitos estão se fazendo, seja publicamente ou na intimidade de uma oração: onde está Deus nesta catástrofe? Com a convicção de quem tem fé, respondo: Ele está ali em cada uma dessas pessoas que receberam um chamado da consciência — ou uma inspiração do Espírito Santo, na minha visão — e foram para a ação. Sejamos honestos: a natureza nos empurra para uma postura autocentrada e egoísta, priorizando nosso bem. Ou, no máximo, o bem dos nossos.

O que explica, então, tantos exemplos de heroísmo? Vemos milhares de homens e mulheres que estão, a maior parte deles de forma inconsciente, operando as obras de misericórdia: dando comida a quem tem fome, bebida a quem tem sede, pousada a quem não tem teto, além de vestir os nus e rezar pelos vivos e pelos que faleceram. A mera dimensão humana e material não dá conta de explicar isso.

Basta abrir os olhos: eles estão no meio de nós. Ou melhor, Ele está no meio de nós.

Rafael Codonho é jornalista e sócio-diretor da Critério – Resultado em Opinião Pública.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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