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O roteiro da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre o Desenvolvimento Sustentável, pode acabar na classificação de um filme B. O cenário é de tirar o fôlego, promete uma sequência de eventos de grudar você na cadeira, tem um elenco nacional e internacional que disputará espaço de atuação todos os dias, mas, infelizmente, o final pode não ser um happy end que todos esperam!

A pouco mais de dois meses de sua première e com uma organização confusa, a última notícia que temos é que diplomatas reunidos na última semana de março, na sede da ONU, em Nova York, deverão propor a criação dos "Objetivos de Desenvolvimento Sustentável" – um conjunto de metas a serem adotadas por todos os países do mundo em áreas como energia limpa, segurança alimentar e preservação dos mares. Isso soa a déjà vú. Um filme que assisti ao vivo na Rio 92 (a outra conferência da ONU realizada no Rio em 1992), e de lá para cá tivemos reprises em vários encontros, sem que houvesse estouros de bilheteria.

A comunidade científica demonstra ceticismo em relação à conferência e ao documento "rascunho zero" que passou de 20 páginas para 178 páginas. Cientistas liderados por Rubens Ricupero (ex-subsecretário da Organização das Nações Unidas) devem lançar um documento que exprime preocupação com a preparação do evento, que não inclui uma advertência mais incisiva sobre os problemas ambientais, como mudanças climáticas e extinção acelerada de espécies. Para Ricupero, "há uma tendência de incluir outros temas no debate, o que dilui a agenda e tira o foco do evento".

O tema da conferência, "Economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza", também é criticado por cientistas, pois o documento vem com velhos vícios da economia que reconhece o PIB (Produto Interno Bruto) como "métrica do bem-estar", ignorando a importância de conclusões de relatórios e conferências anteriores, segundo as quais as medidas de qualidade de vida devem ser mais complexas. A frase utilizada por alguns pesquisadores diz tudo: "há uma sensação de que a Rio+20 é a montanha que vai parir um rato"!

A desorganização do evento paralelo que envolve a sociedade civil também não ajuda. Em fevereiro, depois de muita procura, achei um endereço de e-mail pelo qual se poderia solicitar espaço nos locais que estariam disponíveis para se montar estandes, seminários etc. Feito o cadastro pelo Escritório Verde, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, a informação era de que no começo de março se receberia uma resposta. A resposta veio no dia 29 de março, de um e-mail do Itamaraty, comunicando que quem tivesse interesse nos espaços teria de pagar R$ 550 por metro quadrado de chão.

Temos um governo que tem um discurso, mas na prática é outro. O Brasil quer propor a criação de um órgão de desenvolvimento sustentável que pode ser um conselho ou comitê ou fórum. Diz que o formato não é importante, e este facilitaria a implementação das convenções nos países e dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS). Aqui o contrassenso é gritante, pois ao mesmo tempo este governo reduz o poder do Ibama simplifica os Estudos de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) para acelerar as obras do PAC e quer votar nas mudanças do Código Florestal, que colocará em iminente risco o que ainda nos resta de floresta. Como diz a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, com o governo Lula e Dilma retrocedemos 20 anos em relação às conquistas ambientais.

O resultado pode ser semelhante ao Rio Babilônia, de 1982, filme de gênero policial dirigido pelo Neville de Almeida, que teve a cidade do Rio de Janeiro como cenário exuberante para a salada completa: favela, erotismo, samba, festas extravagantes, high society e "gringa" deslumbrada. Nem mesmo o elenco – com Christiane Torloni, Jardel Filho, Norma Bengel, entre outros, o salvou de ser um filme apenas mediano!

Eloy F. Casagrande Jr. é coordenador do Escritório Verde da UTFPR.

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