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Uma nova face do saneamento básico está sendo revelada, aos poucos, no Brasil. Cada vez fica mais evidente que este pode ser um setor indutor do crescimento e criador de riqueza. Os recentes leilões de concessão e parcerias público-privadas apontam para um cenário em que serão investidos bilhões de reais não apenas nos grandes centros, mas em locais com menores índices de desenvolvimento.
A lógica que dividia as regiões entre rentáveis e não rentáveis para as empresas que se dedicam ao saneamento vai sendo paulatinamente quebrada. Mais do que isso: mostrando-se, na prática, equivocada. No Amapá, jovem estado com apenas 766 mil habitantes, um novo entrante pagou R$ 930 milhões para ter o direito de investir R$ 3 bilhões na atividade. Já em Alagoas, dois novos players, associados a concessionários mais tradicionais, pagaram mais de R$ 1,65 bilhão para aportar mais de R$ 2,9 bilhões em duas regiões do agreste, do sertão e da zona da mata alagoana. Detalhe: elas eram, até aqui, consideradas de pouco valor e com condições áridas.
Esse processo se aprofunda, gerando um círculo virtuoso de investimentos, quando vemos que ele começa a se espalhar pelo interior do Brasil. Segundo a Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), a expectativa é de que 23 licitações sejam feitas no país, sendo 12 delas em cidades com população inferior a 50 mil habitantes, entre o final deste ano e 2023. Em todas elas, haverá um salto de investimentos em infraestrutura voltada ao saneamento, gerando milhares de empregos diretos e indiretos. Além, claro, de melhorar radicalmente a qualidade de vida dessas populações.
Essa riqueza toda será distribuída para o poder público, a partir de recursos provenientes das outorgas; para a sociedade e o meio ambiente, a partir dos investimentos; para as pessoas, a partir do ganho de saúde e da geração de oportunidades de desenvolvimento socioeconômico; e para os acionistas, a partir do retorno sobre os investimentos. Perdemos muitas vidas, desperdiçamos muitos recursos e atrasamos nosso desenvolvimento sem saber que havia muita riqueza escondida no saneamento. Que bom que, agora, encontramos outro rumo.
Yves Besse é engenheiro civil graduado e pós-graduado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), consultor e especialista em Parcerias Público Privadas (PPPs) e concessões e presidente da Cristalina Saneamento.