Se as silenciosas e omissas vozes do bom senso não recuperarem a fala e a noção de responsabilidade para a urgente articulação de uma fórmula consensual que encerre o festival de insanidade em que se engalfinham os três poderes, a campanha para as eleições deste ano de presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais do jeito que vai, não só começou antes do prazo legal como não terminará sem uma crise institucional de bom tamanho.

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Na distribuição de carapuças para as cabeças cobertas pela toga ou exibindo carecas lustrosas e fiapos grisalhos de antigas madeixas de parlamentares e palacianos não há critério razoável para a avaliação da cota de culpa de cada um no rondó da falta de juízo. Na quizília entre a cúpula do Judiciário e o feixe de contraditórios interesses dos partidos sobre a manutenção ou a derrubada da verticalização nas coligações partidárias para as eleições deste ano, se puxarmos o fio da meada fica claro que a ponta enrosca-se madraçaria parlamentar do vício brasiliense da semana de dois a três dias útil. Pendura-se na bagunça partidária com a sopa de siglas viciadas nas barganhas e a falência da credibilidade com os salpicos de lama dos escândalos da corrupção que marcam esta desastrada safra com o ferrete do mensalão e do caixa 2. Junte-se ao bolo a paralisia crônica do governo e a responsabilidade pelo eterno adiamento da reforma política, urgência que perdeu o bonde da oportunidade da aprovação em 2005, a tempo e hora de arrumar a casa para o feixe de eleições deste ano, sem agredir o dispositivo constitucional que proíbe mudanças nas regras do jogo no ano da eleição. O mais é conseqüência, com o toque da frouxidão dos comandos para empurrar a geringonça de morro acima. A discussão em que se entretêm os presidentes da Câmara, deputado Aldo Rabelo, e do Senado, senador Renan Calheiros, é típico truque da desconversa sobre miudezas para desviar a atenção do principal. Pois é de evidência transparente que a regra da verticalização que obriga que as alianças partidárias, nos níveis estadual e municipal, obedeçam à coerência das coligações nacionais e impõe-se como exigência para o fortalecimento das anêmicas legendas, com o desprezo do feixe calculista das vantagens e desvantagens do retorno à bagunça do vale-tudo. Tudo mais como que se dissolve no caldo grosso da decadência dos costumes políticos à sombra da desmoralização do Legislativo, a espernear como menino mimado posto de castigo pela professora. Se uma gota de sensatez prevalecer na próxima e inadiável solução, antes que o mingau fique encaroçado, parece de lógica elementar que o Supremo Tribunal Federal (STF), chamado a dar a palavra final, manterá a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que reafirmou a verticalização na sessão de sexta-feira, como determina a Constituição.

A promulgação pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, da tardia emenda constitucional aprovada pelo Congresso, derrubando a verticalização, é um gesto para efeito externo, que deve ser esquecido com boa dose de benevolência. Enquanto o rolo encorpa no marasmo do governo e nas indecisões tucanas para a escolha do candidato de oposição, o casal presidencial vive a semana de sonho na visita à Inglaterra, adornada pela recepção caprichada que incluiu o desfile triunfal, no trajeto entre a Embaixada do Brasil e o Palácio de Buckingham, na imponente carruagem real e na companhia da rainha Elizabeth II e do duque de Edimburgo. Os paparicos da corte não esqueceram a tradicional visita à abadia de Westminster; o encontro em palácio com os líderes do governo e da oposição e banquete com os requintes do protocolo. Mais dois dias de agrados e rapapés e o fecho de prata do encontro de duas horas, das 12h30 às 14h30 de amanhã, com o primeiro-ministro da Inglaterra, Tony Blair. Aqui, o cisco de um detalhe intrigante. Em curiosa declaração ainda no Brasil, o presidente-candidato revelou a sua relação de amizade com o primeiro-ministro Tony Blair, com quem – detalha – conversa em freqüentes e longos bate-papos telefônicos. E que pretende aprofundar sobre temas como a urgente necessidade de redução dos subsídios agrícolas para beneficiar os países subdesenvolvidos, o problema do biodiesel e demais itens de extensa pauta.

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Se não há exagero na história das conversas telefônicas entre Lula e Tony Blair, das duas uma: ou o primeiro-ministro britânico fala português e ninguém sabia ou Lula, na moita, aproveitou as horas vagas na sua agenda para um curso de inglês. Pelo visto, em tempo integral.