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Conhecida e eficiente, a velha tática de fuga de presos das cadeias infectas, das penitenciárias de superlotação desumana, amontoados como animais nos cubículos do nosso falido sistema prisional oferece alternativas ajustadas às circunstâncias: do túnel cavado a unha, por baixo de ruas e avenidas ao truque de armar falso banzé na porta de entrada para desviar a atenção da rota de fuga pelos fundos.

Ressalvas do estilo para a comparação é mais ou menos o esquema que os envolvidos no festival de corrupção estão armando para escapar das cassações e da tragédia da inelegibilidade e conservar o mandato parlamentar em qualquer nível, um dos melhores empregos do mundo.

Enquanto a campanha no horário de propaganda eleitoral tateia no escuro para descobrir os temas que despertem o eleitorado da soneca da frustração, do desligamento e do nojo, na meia-luz de boate dos dois palácios geminados da Praça dos Três Poderes, conversas, acertos, confabulações, arreglos entre comparsas, traça os planos para a debandada em grupos.

Vale tudo para livrar a cauda presa na ratoeira. A última denunciada pela imprensa não se destaca pela originalidade ou pelo traço de pudor que salve a aparência. O reconhecimento do mérito e da coragem de afrontar a opinião pública retirou do anonimato a que se recolhera há muitos anos, o senador João Alberto Souza (PMDB-MA), presidente do Conselho de Ética do Senado. Pousaram na sua mesa de afanoso expediente, as denúncias da CPI dos Sanguessugas contra três ilibados senadores: Magno Malta (PL-ES), Serys Slhesarenko – ufa – do PT-MT, e Ney Suassuna (PMDB-PB), acusados de envolvimento com as tramóias da compra de ambulâncias e ônibus escolares superfaturados.

O presidente não piscou o olho: encaminhou à Secretaria da Mesa os pedidos de rotina de notificação dos três ilibados representantes de seus estados com a tranqüilizadora declaração aos repórteres que não vai considerar como prova o depoimento de Luiz Antônio Vedoin, um dos chefes da quadrilha dos sanguessugas. E deixou claro o aviso: "Mesmo porque é de um bandido".

Chuvisco no molhado. A identificação da dupla dos denunciantes é conhecida. Mas, qual a diferença entre o bandido que chefia a quadrilha especializada em transacionar com parlamentares a apresentação de emendas ao Orçamento para a compra de material escolar pelas prefeituras, todos acumpliciados no esquema de desvio do dinheiro público e o senador ou deputado cooptado pela máfia e gratificado com comissões de 10% a 15%, além de outras bugigangas?

O pior Congresso de todos os tempos, recordista da era Lula, elevou o corporativismo às alturas de dogma da seita da corrupção. Pela primeira vez em risco, acuado pelas denúncias que esguicham das CPIs, dos Conselhos de Ética, da Procuradoria-Geral da República, da Polícia Federal, da imprensa, recuaram para manobrar na penumbra.

Os mais descarados escapam da inelegibilidade da cassação por baixo da cerca da renúncia ao mandato, para tentar a reeleição com os votos dos desinformados dos grotões. No PT, a desfaçatez foi oficializada com o perdão do partido e a inclusão dos absolvidos pelo plenário no inqualificável acerto com o baixo clero.

Não está fácil a fuga no modelo das penitenciárias paulistas. A Procuradoria-Geral da República encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de novos inquéritos sobre parlamentares envolvidos com a máfia dos Sanguessugas. O total deve passar de 80, sendo que 57 estão em andamento.

Não é possível esconder tanto lixo debaixo dos tapetes do Legislativo. O candidato-presidente Lula, acima do bem e do mal, afirma qualquer disparate. Já resolveu em três anos e 10 meses de mandato todos os problemas do país, desde a descoberta por Cabral. Mas, o bloco de candidatos – não vai além de um trio – que cavouca o voto na oposição, necessita apresentar propostas claras para a restauração da dignidade, da respeitabilidade do Congresso.

Os engabelos e mistificações do saco da reforma política não vão além de remendos, muitos úteis e necessários, mas não enfrentam o desafio da reabilitação moral do Congresso, com a varredura das mordomias, das vantagens, dos benefícios, dos truques e maroteiras que deságuam no escândalo da roubalheira infiltrado por todos as frestas da crise institucional à vista.

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