| Foto: Marcos Tavares/Thapcom

O programa Rota 2030 pretende “estimular” a modernização do setor automobilístico no longo prazo, mediante a fixação de um conjunto de regras, tais como incentivos fiscais de até R$ 1,5 bilhão por ano se as montadoras investirem no mínimo R$ 5 bilhões no Brasil, diminuírem o consumo de combustível em 11% até 2022 e introduzirem certos equipamentos até 2027. Contempla duas “caridades”, a saber: a diminuição do IPI de 25% para uma banda de 7% a 20% e um desconto especial para veículos híbridos com motor flex. E contém a habitual perversidade, que é a ameaça de multar em 20% da receita de suas vendas as empresas que não aderirem ao programa ou que descumprirem suas metas, algo como um convite compulsório, uma intimação judicial.

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Planos de governos, incluindo as chamadas políticas industriais, invariavelmente são fracassos com datas marcadas, lorotas oficiais. Esta é uma simples constatação, à qual a mais recente demonstração de furor legislador do governo, a Rota 2030, não escapará. Política industrial ideal é aquela que simplesmente não existe, mas, já que parece precisar existir, por imposição do cacoete intervencionista que contamina políticos em geral e a maioria dos economistas, então deve circunscrever-se a pouquíssimas regras de bom senso.

Política industrial ideal é aquela que simplesmente não existe

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A primeira delas é que o melhor incentivo que o governo é capaz de fornecer é assegurar a liberdade para empreender, pela abolição de reservas de mercado, tributos, concentração industrial e monopólios legais, o que se faz simplesmente garantindo a competição; a segunda é que, antes de festejá-las, deve-se responder à questão essencial, que é sobre quem será beneficiado por essa ou aquela política, se alguns empresários amigos ou os consumidores; e a terceira é que é muito mais eficiente remover todos os obstáculos, barreiras e controles existentes do que conceder incentivos porque, na maioria dos casos, a economia de mercado cuidará de si mesma e o grande beneficiado será aquele que faz por merecê-lo, o consumidor final.

Alguns poderão defender a necessidade dessas políticas citando exemplos de indústrias que talvez não existissem hoje no país sem os estímulos dados no passado, uma alegação facilmente replicável com a simples menção ao conceito elementar de custo de oportunidade. Há diferenças flagrantes entre enxergar apenas o que está à nossa frente e ir além, prevendo também o que sucederá no longo prazo, assim como não é a mesma coisa usar uma lanterninha de celular ou um farol de milha.

Melhorias para o meio ambiente: Um novo caminho para a inovação (artigo de Karin Borsato , doutora em Engenharia Mecânica e coordenadora dos cursos de Engenharia Mecânica e Engenharia de Produção da Universidade Positivo)

Mas então, se podemos ver as instalações de uma indústria incentivada pelo governo, seus prédios, empregados, fornecedores, consumidores etc., por que criticar a política que tornou isso possível? O buraco é mais embaixo, porque é muito relevante saber, além dos custos diretos, quais foram os custos de oportunidade incorridos. Quantos edifícios, funcionários, abastecedores e compradores de outras indústrias poderiam ser vistos – mas não o são porque, simplesmente, não existem – caso a alocação de recursos, em vez de ter sido imposta, fosse promovida por decisões voluntárias de empreendedores de fato? Uma indústria incentivada artificialmente de cima para baixo, e que talvez nem tivesse por que existir no país, não é pior, em termos de benefícios para os consumidores, comparativamente a outra que teria surgido de baixo para cima pela liberdade espontânea de escolha?

O caminho para a eficiência no uso de recursos e produtos melhores e mais baratos é a competição interna e externa, e não secreções expelidas por cérebros de legisladores e engenheiros sociais. Por que não abolir impostos e regulamentações, desburocratizar, abrir o mercado e deixar o consumidor ter acesso a esses bens? A mania dos planejadores de nos impor o que é bom e o que não é bom segundo suas cabeças precisa ser rapidamente abolida.

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Ubiratan Jorge Iorio é economista, diretor acadêmico do Instituto Mises Brasil e professor associado da Uerj.