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Rumo à “venezuelização” do Brasil

reforma ministerial Bolsonaro
Presidente Jair Bolsonaro e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), escolhido para ser o novo ministro da Casa Civil. (Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República)

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Bolsonaro se rendeu por completo ao Centrão do senador Ciro Nogueira (PP-PI), antigo apoiador do PT. Nogueira votou em Lula (duas vezes), votou em Dilma Rousseff (duas vezes) e no alter ego de Lula, Fernando Haddad, no primeiro e no segundo turno. Em 2017 Ciro Nogueira declarou, em uma entrevista à TV Meio Norte, cujo vídeo corre célere na internet, que, se Lula viesse a ser candidato em 2018, votaria nele, já que Lula fora “o melhor presidente da história”.

Ainda na mesma ocasião, novembro de 2017, o senador Ciro Nogueira chamou o então deputado federal Jair Bolsonaro de “fascista”. E foi adiante o poderoso chefão do Centrão e agora convidado do mesmo Jair Bolsonaro para a Casa Civil da Presidência da República: “O Bolsonaro eu tenho muita rejeição porque é um fascista. Ele tem um caráter fascista, preconceituoso. É muito fácil você ir para a televisão falar que vai matar bandido, que vai não sei o quê”.

Ciro Nogueira é investigado em três inquéritos no STF. Há um ditado popular que diz “onde há fumaça, há fogo”. E fogo parece não faltar na biografia de Ciro Nogueira. Este é o homem que Bolsonaro, na maior cara de pau e irresponsabilidade, está levando para o mais relevante, vistoso e endinheirado ministério de seu governo. Mais uma vez, uma raposa de caráter duvidoso é colocada a cuidar do galinheiro, isto é, do dinheiro do contribuinte trabalhador.

Ciro Nogueira é, ainda, o senador que levou a “nulidade jurídica” (obrigado, Caio Coppolla) Kassio Nunes Marques ao Planalto e, naquela mesma visita, conseguiu que Bolsonaro indicasse seu afilhado para o STF. Foi assim que Bolsonaro conseguiu, segundo J.R. Guzzo, tornar ainda pior aquela corte de Justiça, que já era péssima.

Ciro Nogueira é homem sem ética, sem princípios e sem ideais: ele só tem interesses pessoais – e, em geral, interesses nada republicanos. E Bolsonaro mostra, com sua nomeação, que está no mesmo nível e que “só pensa naquilo”: salvar sua pele e a de sua famiglia, mesmo que comprando sua sobrevivência ao Centrão. Comprando com dinheiro do contribuinte, claro.

Deste breve relato, conclui-se que, sempre que Ciro Nogueira levar o dele, tanto faz servir a Lula, a Dilma, a Haddad ou a Bolsonaro. E Bolsonaro, se for para sobreviver e salvar sua famiglia, convive alegremente até com o diabo.

A Casa Civil que Nogueira recebe como pagamento pelo apoio do Centrão a Bolsonaro já foi chamada, na era petista, de “Casa Vil” da Presidência da República. E “casa vil” é o que volta a ser no (des)governo Bolsonaro. Aliás, mais vil do que foi no passado.

Onde foi parar o general que dizia “Se gritar ‘pega Centrão’, não fica um meu irmão”? Ele, o general Heleno, hoje ocupa o Palácio do Planalto, devota fidelidade canina a Jair Bolsonaro e é, supostamente, a única pessoa do país a negar a existência do Centrão, coisa que nem os membros daquele grupo difuso afirmam.

Jair Bolsonaro, hoje em dia, é sinônimo de falsidade. O discurso de campanha contra a “velha política” começou a desmoronar quando Bolsonaro sentiu-se compelido a interferir na PF para blindar o filho “rachadinha”, Flávio Bolsonaro. Sergio Moro, negando-se a endossar a interferência nas atribuições constitucionais da PF – uma instituição de Estado e não de governo –, acabou sendo forçado (por uma questão de dignidade!) a se exonerar. Na época, afirmei que aquela exoneração representava o começo do fim do governo Bolsonaro, como desenhado em sua campanha. A rendição de Bolsonaro ao que existe de mais negativo e abjeto na política brasileira (o Centrão de Ciro Nogueira, este o símbolo maior daquele) mostra que eu estava absolutamente certo.

Más de lo mismo. Eis como um hermano definiria o (des)governo de Jair Bolsonaro, se comparado ao de Lula ou de Dilma. Estes dois também se entregaram ao Centrão em nome da “governabilidade”. Quando Dilma não mais servia ao Centrão, este lhe deu um grande presente: o impeachment. Se isto vier a se repetir com Bolsonaro, não será tão ruim assim; o Brasil pode melhorar. Confiar no Centrão é tão seguro quanto o fora confiar em George C. Parker, o falsário norte-americano que vendeu, inúmeras vezes, a Estátua da Liberdade e a Ponte do Brooklin.

Lula no governo, Dilma, Haddad ou Bolsonaro, em que pesem as diferenças de estilo (Bolsonaro é escatológico!), dá tudo no mesmo para Ciro Nogueira. A desgraça do Brasil é a mesma sob qualquer um deles. Ou bem pior, no caso deste último, já que, com a rendição cabal ao Centrão e com o presidente da Câmara (outra cria de Bolsonaro) passando o trator ao fazer aprovar a toque de caixa leis que favorecem o crime e os criminosos (mormente os criminosos políticos), o Brasil dá passos largos em direção ao regime da Venezuela de Maduro.

Transformar o Brasil numa imensa Venezuela parece ser o sonho do Centrão de Ciro Nogueira, agora em aliança fechada com a famiglia Bolsonaro. Aliás, Centrão e Venezuela parecem ter tudo a ver.

Quanto a Jair Bolsonaro, caso pudesse, não tenho dúvidas de que se transformaria no SuperMaduro do maior país sul-americano.

José J. de Espíndola é engenheiro mecânico, mestre em Ciências em Engenharia, Ph.D. pela Universidade de Southampton (Inglaterra), doutor honoris causa pela UFPR e professor titular aposentado da UFSC.  

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