Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) 2018, que acabam de ser divulgados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostraram que o Brasil continua andando de lado nesse ranking, principal parâmetro de avaliação do aprendizado dos alunos de até 15 anos. É verdade que se considerássemos apenas o recorte relativo às escolas de elite, nosso país estaria em quinto lugar no mundo e no conjunto das instituições particulares, em 10º. Em ambos os casos, essas classificações estão atreladas à leitura, ênfase do exame em 2018.
Por isso, é importante observarmos as exceções positivas do nosso sistema educacional, incluindo políticas públicas bem-sucedidas no ensino, como em Pernambuco e Ceará, para percebermos que há soluções viáveis. Por enquanto, porém, estamos muito restritos a bolsões de conhecimento, que não serão capazes e suficientes para fazer com que o Brasil cresça numa proporção e em velocidade relevantes, considerando o papel da educação como fator condicionante do desenvolvimento, ainda mais decisivo no contexto do boom tecnológico e dos processos disruptivos da economia, da produção e dos mercados. Cada vez mais, será preciso conhecimento para trabalhar!
Não é sem razão, portanto, que haja uma corrida mundial pela atração de talentos. O País, num reflexo do que mostrou o PISA, produz alunos e alunas de excelência, porém de modo concentrado. Uma parte deles, entretanto, ao longo de sua ascensão educacional, acaba indo para o Exterior. Ou seja, formamos cérebros em quantidade insuficiente e ainda os perdemos, o que amplia o impacto negativo na sociedade da má qualidade do ensino em geral. Há consequências na produção devido à redução da produtividade média das empresas, uma das causas do elevado “custo Brasil”. Estamos na contramão dos países cujo sucesso no desenvolvimento, conforme analisa a própria OCDE, advém da redução das desigualdades por meio do acesso à educação de qualidade.
Assim, não há mais como postergar uma política educacional eficaz, sem a qual não teremos uma nação desenvolvida e mais justa. Para vencer o desafio, não é o caso somente de pedir aumento de verbas, pois isso já vem ocorrendo, sem que os resultados reflitam o aporte de recursos. Por isso, é preciso que se conheça melhor os programas dos nossos bolsões de políticas públicas adequadas, para replicá-los. Tais exceções mostram que temos boas soluções próprias, como ocorre no Sistema S, como o Sesi e Senai, que qualificam pessoas de muito bom nível para atender às necessidades da indústria, setor cada vez mais dependente de conhecimento.
É importante, também, a educação continuada. Neste século, as pessoas têm de estar com o “modo aprender” permanentemente ligado, à luz das novas tecnologias e rápidas transformações da produção e trabalho. Tudo isso, sem perder a cultura de base, acessível através da leitura e estudo das ciências exatas e humanas. É preciso entender, por meio do conhecimento, como chegamos até aqui para desvendar para onde estamos indo e como chegar a um novo destino na aventura humana!
Todo esse cenário de mudanças impacta de modo significativo a indústria têxtil e de confecção, altamente empregadora. No nosso setor, como em todos, há tecnologias que funcionam como poupadoras de mão de obra. Assim, os postos de trabalho que se mantêm e os criados nesse processo transformador são os mais qualificados, ou seja, os que dependem do conhecimento.
Portanto, o futuro do nosso país passa, necessariamente, por um mutirão de ensino de qualidade para todos. É preciso que, no espaço de uma geração, consigamos avançar muito, alcançando posições relevantes no PISA e em outros indicadores e, em consequência, no desempenho da economia e no grau de desenvolvimento. Precisamos do saber para transformar nosso imenso potencial de recursos naturais e de mercado em riqueza humana.
O mais eficaz instrumento de inclusão socioeconômica é o emprego, hoje permeado por uma nova lógica de trabalho, cada vez mais se distanciando dos modelos tradicionais. Conhecimento, mentes flexíveis, empatia, simpatia e capacidade de interação e entendimento amplo da produção, mercado e do mundo tornam-se fundamentais. Nosso sistema de ensino precisa proporcionar tais virtudes aos brasileiros, oferecendo-lhes oportunidade de empregos dignos. Somente assim reduziremos o fosso social que nos atrasa e dificulta nossa inserção competitiva na economia global.
As indústrias têm investido bastante em qualificação, mas isso não é suficiente. Não podemos nos resignar aos bolsões de excelência indicados pelo PISA. Afinal, desenvolvimento se conquista com educação, a qual proporcionará a democratização de oportunidades!
*Fernando Valente Pimentel é presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).