O ministro da Educação está deixando o cargo. Não se trata de perda irreparável, embora o ocupante não tenha sido protagonista de nenhuma das histórias infelizes que defenestraram tantos de seus colegas ministros. Não se destacou pelo brilho administrativo, pelo contrário, sai chamuscado por sucessivas e quase infantis demonstrações de incompetência na realização do Enem – o Exame Nacional do Ensino Médio –, uma das melhores políticas de Estado para a educação brasileira, projeto de alcance estratégico e interesse nacional, tratado como se fosse uma obra insignificante em algum grotão, que deve ser concluída no mandato do prefeito de turno, para a festa de inauguração, os discursos, os votos.

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O Ministério da Educação já foi ocupado por cavalgaduras ilustres, e também por pessoas da dimensão de Darcy Ribeiro e Cristovam Buarque (demitido por telefone!); já recebeu o auxílio luxuoso de Carlos Drummond de Andrade, Cândido Portinari, Heitor Vila-Lobos, Cecília Meireles. Poucos ministros o usaram exclusivamente como trampolim para suas ambições eleitorais; em princípio a função é relevante, sonhada por professores bem-intencionados e desejosos de contribuir para o futuro da educação brasileira, currículo que se exibiria com orgulho, uma das mais importantes pastas para garantir a perspectiva de inserção do país no primeiro mundo.

A indiferença deste trabalho, a preferência ostensiva por outra atividade, à maior parte dos docentes parecerá sempre um despropósito, em particular neste período extremamente desafiador da história nacional, com a perspectiva de atravessar relativamente incólume a complexa conjuntura econômica mundial, em que autoridades e populações parecem desafiar-se e reinventar-se continuamente. A estabilização econômica alcançada nos últimos 17 anos aponta o limiar de uma fase de progresso e crescimento. Embora em tempos turbulentos para a política global, as perspectivas são positivas, com o possível aumento da riqueza nacional trazendo grandes oportunidades de trabalho, exigindo boa formação e qualificação profissional, com significativa parcela da população podendo influir livre e conscientemente em seu destino. Para isso, o único caminho é a melhoria do processo educacional, que nos permita autossuficiência em mão de obra qualificada, deixando de exportar nossos melhores cérebros, que já saíram em busca de oportunidades em outros cantos do planeta durante o período em que atolávamos na inflação e na paralisia econômica.

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Educação tem um grande custo para toda a sociedade; seja em escolas públicas ou privadas, em impostos ou mensalidades. E vale cada centavo bem aplicado que custa, educação é uma arma poderosa para o real desenvolvimento de um país, é o meio mais legítimo de promoção de justiça social. Como não seria o Ministério da Educação um dos mais importantes para definir o destino brasileiro?

Anunciado o próximo ocupante do posto, ficam dúvidas e inseguranças, pois o perfil que agrada a um determinado nível de ensino aparentemente desagrada a outros. O compromisso político-partidário e o compromisso com a educação nem sempre são convergentes. Pessoas e sociedades só amadurecem quando abrem mão de suas ilusões e mitos, adultos sabem que as soluções não serão produto de milagres.

A sucessão alucinada de escândalos, roubos, corrupção, desmandos e outros crimes temperados por uma impunidade que se eterniza, produzem, além do óbvio, o sentimento de que as boas intenções de discurso são sempre e apenas engodos. O que deveria ser a expressão de propostas e valores parece servir apenas para perpetuar fantasias; e como consequência, deixamos de acreditar em propostas e valores, quando é desta bandeira que mais precisamos.

Wanda Camargo, educadora, é presidente da Comissão do Processo Seletivo das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil).