Conforme divulgado amplamente na imprensa recentemente, a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) teve em 2013 um lucro de R$ 403 milhões, ou seja, 20% maior que em 2012, acompanhando as discussões de distribuição de lucro entre os acionistas, bem como que venderá ações etc. Gosto muito da democracia e do capitalismo, pois entendo ambos como as únicas formas conhecidas de boa convivência social e da busca humana pelo desafio, mesmo que esse desafio seja ter cada vez mais dinheiro. Porém, não podemos deixar de analisar uma empresa de saneamento básico que tem no seu fundamento existencial ter lucros consideráveis e prestar um serviço de qualidade tão discutível, para dizer o mínimo.
A Sanepar é considerada a melhor empresa de saneamento do Brasil, porém essa análise só é possível devido à mentalidade medíocre de alguns dos nossos administradores públicos. Além de ser um grande cabide de emprego de políticos e outros apadrinhados que não se reelegeram, é preciso ter uma visão estratégica e analisar seu fundamento básico de existência. Não é razoável uma empresa de saneamento desperdiçar 40% da água que trata e aceitar que coletar o esgoto e tratá-lo com 65% de pureza seja um bom índice. Na verdade, esses dados demonstram que a Sanepar desperdiça quase a metade do que seria lucro com a venda de água e devolve 35% do esgoto sem tratamento.
Uma empresa dessas não poderia dar lucro em dinheiro; não faz sentido, pois os prejuízos para a natureza e para a saúde da população são incomensuráveis. Com certeza gastamos muito mais que o lucro da Sanepar para tratar as doenças causadas pela falta de tratamento adequado do esgoto e que dá lucro, além de ser incalculável o custo ambiental nos rios e córregos do nosso estado. Basta lembrar que Curitiba, a capital ecológica que tanto nos orgulha, tem o segundo rio mais poluído do Brasil (perdendo apenas para o Tietê, em São Paulo) e essa poluição é esgoto não coletado, sendo que falta tratamento adequado do que é coletado.
Entendo o saneamento como um problema local, ou seja, municipal; portanto, não deveríamos ter uma única grande empresa responsável por todo o tratamento da água e esgoto em um estado grande como o Paraná. Precisamos entender que, às vezes, o lucro não compensa, ou não deve ser essa a busca de uma empresa de saneamento. Baseados apenas no lucro, utilizamos tecnologias obsoletas e nos satisfazemos com resultados medíocres, desde que resultem em lucro.
Eu esperava o tal choque de gestão prometido pelo governador com ações como a busca de um modelo alemão para resolver essa situação. Trata-se de um país pequeno, com duas vezes o tamanho do Paraná, com 82 milhões de habitantes, e que tem todos os rios limpos e navegáveis é comum as pessoas pescarem nos rios e córregos por lá. Será que não poderíamos comprar a tecnologia alemã e resolver o problema? Quem sabe assim, em um futuro próximo, a empresa de saneamento local possa dar lucro, no sentido amplo da palavra.
Ademar Batista Pereira, presidente da Federação dos Estabelecimentos Particulares de Ensino da Região Sul (Fepesul), é membro da executiva estadual do Partido Verde.
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