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Quem teve, como eu, a experiência de conhecer um santo sabe que certas datas têm o condão de despertar muitas lembranças. Na quinta-feira, dia 26, a Igreja celebra a festa de São Josemaría Escrivá. Há 40 anos, em maio e junho de 1974, visitou o Brasil e se apaixonou com o que viu: a diversidade de raças, o convívio aberto e fraterno, a alegria, a musicalidade da nossa gente. Apalpa-se no Brasil, dizia ele comovido, todas as combinações que o amor humano é capaz de realizar. Liberdade, tolerância e carinho, traços característicos de nosso modo de ser, atraíram profundamente o fundador do Opus Dei.

A figura amável de São Josemaría e a força de sua mensagem tiveram grande influência em minha vida pessoal e profissional. Aproveitando a efeméride, quero compartilhar algumas ideias recorrentes na vida e nos ensinamentos de São Josemaría: seu amor à verdade e sua paixão pela liberdade – uma pauta permanente para todos os que estão comprometidos com a tarefa de apurar, editar, processar e transmitir informação.

"Peço a vocês que difundam o amor ao bom jornalismo, que é aquele que não se contenta com rumores infundados, com boatos inventados por imaginações febris. Informem com fatos, com resultados, sem julgar as intenções, mantendo a legítima diversidade de opiniões, num plano equânime, sem descer ao ataque pessoal. É difícil que haja verdadeira convivência onde falta verdadeira informação; e a informação verdadeira é aquela que não tem medo à verdade e que não se deixa levar por desejos de subir, de falso prestígio ou de vantagens econômicas." A citação, extraída de uma das entrevistas do fundador do Opus Dei à imprensa, é um estímulo ao jornalismo de qualidade.

Apoiado na força de sólidas convicções, o pensamento de São Josemaría suscita, ao mesmo tempo, uma visão aberta, serena, pluralista. Sempre me impressionou o tom positivo da sua pregação. Sua defesa da fé não é, de fato, antinada, mas a favor de uma concepção cristã da vida que não pretende dominar à força da imposição, mas, ao contrário, quer se apresentar como uma alternativa cuja validade depende da resposta livre do homem.

Sua doutrina se contrapõe a uma doença cultural do nosso tempo: o empenho em confrontar verdade e liberdade. Frequentemente, as convicções, mesmo quando livremente assumidas, recebem o estigma de fundamentalismo. É o covarde recurso de rotular negativamente quem pensa de modo diverso. Impõe-se, em nome da liberdade, o que se poderia chamar de dogma do relativismo. Essa relativização da verdade não se manifesta apenas no campo das ideias. De fato, tem inúmeras consequências na prática jornalística.

A tendência a reduzir o jornalismo a um trabalho de simples transmissão de diversas versões oculta a falácia de que a captação da verdade é um sonho romântico. Se a verdade fosse impossível de ser alcançada, a simples apresentação das versões (ouvir o outro lado) representaria o único procedimento válido. Josemaría Escrivá rejeita essa atitude míope e embobrecedora. "Informar", diz ele, "não é ficar a meio caminho entre a verdade e a mentira". O bom jornalista é aquele que aprofunda, vai atrás da verdade que, como dizia o grande jornalista Claudio Abramo, frequentemente está camuflada atrás da verdade aparente.

Ao mesmo tempo em que defende os direitos da verdade, São Josemaría não deixa de enfatizar o valor insubstituível da liberdade humana contra todas as formas de sectarismo e de intolerância. E, ao contemplar o dogmatismo que tantas vezes preside as relações humanas, manifesta uma sentida queixa: "Que coisa triste é ter mentalidade cesarista e não compreender a liberdade dos demais cidadãos, nas coisas que Deus deixou ao juízo dos homens". Para ele, o pluralismo nas questões humanas não é apenas algo que deve ser tolerado, mas, amado e procurado.

Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais (Iics).

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