Não existem "certos" ou "errados" nessas discussões sobre o sistema de saúde

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Há pouco mais de 40 anos, uma iniciativa de médicos paulistas, preocupados com a remuneração médica e também em oferecer alternativa aos primeiros sistemas privados de atendimentos à saúde, acabaram vendo no cooperativismo a possibilidade de organização da classe médica. A cooperativa também serviria como forma de fomentar os seus consultórios e, por sua vez, gerar receitas de outras fontes, que não apenas as oriundas de seus atendimentos particulares.

Nessa mesma época, as empresas viram nas organizações médicas em formação a possibilidade de oferecer aos empregados formas de atendimentos alternativos ao sistema público.

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Tais medidas deram à classe médica a possibilidade de geração de renda com um volume maior de atendimentos assegurados pelos empregados das indústrias. Aos industriais, a possibilidade de que os seus empregados pudessem ter um atendimento com qualidade e da forma mais rápida. Isso evitaria a perda da produtividade do empregado e, por sua vez, a continuidade de geração de renda. Dessa ideia surgiram as organizações que muito tempo depois passaram a ser conhecidas como planos de saúde.

Enquanto o setor público pena para encontrar recursos para os atendimentos dos 150 milhões de brasileiros que não têm planos de saúde, a outra parcela da população (os 40 milhões que têm assistência privada de saúde) deve torcer para que nos próximos dez anos ainda existam planos de saúde em condições de sobreviver ao dificultoso setor.

O que a população deve saber, e de forma transparente, é que não existem "certos" ou "errados" nessas discussões sobre o sistema de saúde. O que realmente existe em todas as discussões é como atender às necessidades das pessoas diante do que diariamente os sistemas de saúde colocam no mercado, e que por sua vez geram custos assistenciais que superam a inflação geral de preços, diante os recursos cada vez mais escassos das empresas e dos governos.

Todos têm as suas razões. Os médicos que reivindicam melhores padrões de remuneração. As empresas que se defrontam com necessidades de engenharia financeira de forma a se manterem competitivas. As operadoras que enfrentam um nível de exigência cada vez maior, gerada pelo poder regulador e pela judicialização da saúde. E, por fim, aqueles que as operadoras chamam de beneficiários e que competem pela manutenção de seus empregos, até como forma de manter os seus planos de saúde.

Bem ou mal, o que seria da economia brasileira se os recursos da saúde suplementar não estivessem girando na cadeia de negócios da saúde? O que seria dos pacientes que teriam de enfrentar filas intermináveis num sistema público que carece de recursos financeiros?

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Se há pouco mais de 40 anos não se tivesse a ideia de, através do setor privado, possibilitar o atendimento à saúde, provavelmente não teríamos hoje uma Medicina de ponta.

Quando a ANS foi criada no ano 2000, pouco mais de 2.600 operadoras foram inicialmente identificadas. Hoje, perto de mil ainda fazem "das tripas coração" para que possam, nos próximos dez anos permanecer no mercado.

Quem é que perde com tudo isso? Todos perdem! Aqueles que produzem insumos, materiais e instrumentos médicos. Aqueles que vivem da logística. Aqueles que prestam os serviços, os que produzem medicamentos, o governo. Aqueles que geram tecnologias médicas, que trabalham na saúde, mas, principalmente, aqueles que dependem dos planos de saúde para serem atendidos.

Para aqueles que se atrevem a estudar ou a acompanhar o assunto, certamente concluem que as soluções não são fáceis, mas que exigem um grande esforço e pacto de gestão de todos aqueles que integram a cadeia de negócios da saúde.

Para que tenhamos realmente saúde no futuro, precisamos pensar em qualidade de vida, em promoção e prevenção à saúde. Precisamos evitar o desperdício, promover um pacto pela ética nas relações entre todos da cadeia de negócios. Precisamos envolver aqueles que pensam a saúde e mudar para sustentar. Enfim, precisamos que cada um faça a sua parte com senso de justiça e de equilíbrio.

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Criticar a saúde é fácil, gerir a saúde é algo complexo e difícil, mas entender toda essa cadeia de negócios é coisa que muitos deveriam tentar com mais profundidade, para que possam contribuir com soluções.

Marcos Antonio Brenny é administrador hospitalar, MBA Executivo em Saúde e especialista em Gestão e Sistemas de Saúde.